Os Moon Duo têm coisas em comum com os Wooden Shijps. O mesmo guitarrista (Ripley Johnson), a mesma cidade (São Francisco) e todo um conjunto de referências históricas do rock psicadélico. E têm coisas que os singularizam. Para começar são apenas dois (a Johnson junta-se Sanae Yamada) e, o mais importante, não são enciclopedistas. Não tocam com a cabeça mergulhada em fonotecas ou em colecções de vinis. Conhecem certamente o cânone, mas manipulam-no com intuição, sentido de improviso e (muito importante) entusiasmo. Por isso, não se confundem com a maioria dos seus pares contemporâneos. Elencar todas as declinações do rock psicadélico não é tarefa fácil. Houve os 13th Floor Elevators e os The Byrds, depois os Loop e os Spacemen 3. E mais recentemente, até os Kyuss e os Animal Collective reivindicaram a influência de música que modifica os estados de consciência. Indo um pouco mais longe encontram-se parentescos no space-rock e no krautrock. Os Moon Duo dispensam tanta companhia. O seu escopo é relativamente mais modesto: apontam ao minimalismo dos Velvets e dos Spacemen 3, sopram o fumo tóxico dos Suicide e expandem o garage rock de Back from the Grave. Inspiram-se claramente numa idade clássica da pop/rock, mas fazem-no contaminados por uma dinâmica, uma jouissance cada vez mais raras. Agitam, animam as canções antes que estas tomem a forma de loops escolares. Não hesitam, quando necessario, em recuar aos primórdios do rock and roll ou abraçar as revisões britânicas dos finais dos anos 1980 (Jesus Mary Chain, Walkings Seeds). Basta colocar os ouvidos no excelente “Circles”, editado em 2012: é um disco entranhado de ritmos, melodia, refrões. É música pop com arestas, formas, peso. Não se dirige apenas à mente, mas também ao corpo. Agarra-nos pelo braço e leva-nos para a pista de dança. E dançamos. JM