A Galeria Zé dos Bois apresenta, entre 6 de Outubro de 2022 e 7 de Janeiro de 2023, Nanquim Preto sobre Fundo Branco, exposição individual de João Ayres (1921-2001).. Ocupando as salas do primeiro andar da Galeria, esta mostra é composta por três conjuntos de pinturas e desenhos, produzidos entre 1947 e 1959.
A programação da ZDB, nos últimos anos, tem-se focado, essencialmente, em exposições individuais de artistas contemporâneos, mas também em mostras de movimentos, correntes ou autores que, de alguma forma, se pretende revisitar propondo uma abordagem histórica.
Nanquim Preto sobre Fundo Branco propõe olhar para a primeira década da produção artística de João Ayres, repondo a sua importância histórica e artística como precursor do Modernismo em Moçambique no final dos anos 40 e 50.
Em 1944, João Ayres integra o II salão “Independentes” (exposição colectiva onde, entre outros, participam Fernando Lanhas, Nadir Afonso e Júlio Rezende) no Coliseu do Porto, e a exposição Anual da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa. Em 1946, impulsionado pelo pai, o pintor naturalista Frederico Ayres, muda-se para Moçambique, onde exerce actividade como pintor, com exposições regulares em África do Sul e Brasil.
Paralelamente, foi professor de pintura e desenho no Núcleo de Arte em Maputo, tendo formado grande parte de artistas locais como Malangatana, José Júlio, António Bronze, Mankew e Bertina Lopes.
É durante este período que começa de forma mais intensa, a sua prática artística e de onde surgem as suas primeiras grandes telas neo-realistas de temática social que reflectem influências surrealistas. Esta exposição defende o papel de João Ayres enquanto um dos primeiros artistas a retratar a realidade Moçambicana através da corrente neo-realista, pintando imagens dos trabalhadores na doca de Maputo, a lamentação da condição social, o tocador de berimbau ou as manifestações culturais autóctones, apontando as diferenças sociais e culturais vigentes na época entre colono e colonizado, sendo este último o protagonista das suas telas. A sua primeira mostra individual, em 1949, reuniu um conjunto destas telas de grande formato, algumas das quais apresentadas na presente exposição.
O segundo núcleo – e aquele que dá título à exposição – é composto por um conjunto de desenhos, realizados entre 1956 e 1957 após a sua vinda do Brasil onde apresentou uma exposição individual no MASP (Museu de Arte de São Paulo), mostrando a corrente concretista no trabalho de Ayres. Afastando-se da figuração, o artista inicia uma exploração de formas, debruçando-se sobre padrões geométricos monocromáticos.
Em finais dos anos 50, a cor entra na sua obra, bem como uma maior liberdade no traço, presente na selecção de desenhos e pinturas reunidos no terceiro grupo da exposição. Nestas obras constam traços de padrões reconhecíveis nos penteados e escarificações da escultura Maconde e também em máscaras de parede do sul de Moçambique.
Uma seleção de estatuária – parte da colecção particular iniciada por Frederico Ayres – que recria referências folclóricas, tradicionais e culturais à época em Moçambique, trespassa todo o corpo de trabalho.
A programação complementar à exposição é composta por duas sessões de cinema onde se inclui o filme João Ayres, Pintor Independente (2022) de Diogo Varela Silva, bem como visitas guiadas, e uma conferência com Alda Costa, historiadora de arte contemporânea moçambicana.