Como as genuínas, Ramona Gonzalez continua a seduzir, a surpreender e dar-nos insistentemente mais razões para voltar a ela. Para quem se enamorou no já distante ano de 2009 com o seu disco inaugural “Good Evening”, tem sido sido uma relação longa com as necessárias mudanças e transformações. Houve entretanto outros intervenientes no seu percurso, gente talentosa como Dâm-Funk, Julia Holter ou Droop-E – todos eles de galáxias diferentes, e porém nenhum deles realmente alheio ao conceito de pop segundo Nite Jewel. Mas há quase sempre uma pedra no caminho e a sua passagem pela editora Secretly Canadian revelou-se, de acordo com a própria, algo tóxica do ponto de vista criativo. Visões díspares e supostas pressões na viragem de rumo musical levaram-na a produzir o álbum mais comercialmente viável até à data. ‘One Second Of Love’ continha as mesmas raízes electro de outros tempos no entanto, onde antes o florescia o enigmático por detrás da neblina, passou a existir o concreto iluminado pela luz. Dentro de uma noção de uma passagem linguística, não é uma obra que envergonhe embora tal decisão tenha potencialmente afastado ou aproximado ouvidos.
Foram precisos quase quatro anos para emergir então o seu sucessor. Curiosamente, ou nem tanto, “Liquid Cool” representa um ponto de regresso ao que se poderia agora denominar de raízes. O ritmo das composições volta a diminuir, as melodias recuperam o veludo perdido e a voz de Gonzalez reencontra-se com uma melancolia contemplativa by night. Recorda em muito a magia que nos fez aproximar dela em “Good Evening”. Momentos como “Was That A Sigh” tomam-nos a mão para uma pista de dança esquecida, centrando-se nessa essência absoluta de Nite Jewel: pop de baixa fidelidade, orgulhosamente fora de horas. Durante estes nove retratos de “Liquid Cool”, pisca-se o olho ao italo-disco em câmara lenta e trinca-se a orelha ao R&B de descendência estelar. De certo modo, é um ciclo que se completa, um ouroborus que se revela.
Gravado entre Octubro do ano passado em Los Angeles e financiado pelos royalties de um jogo de computador com um tema seu, esta nova coleção de canções respira Nite Jewel a cada segundo. Neste retorno à sala que desde a primeira vez a acolheu por cá – e cujo terraço da ZDB foi palco para um vídeo que correu meio mundo – é mais que merecido tirar o pó à bola de espelhos e estender o tapete reservado aos convidados de honra. É bom tê-la de volta, junto de nós. NA