Há os músicos que amam certas músicas ou certas formas de fazer música. E que, quase sempre em silêncio, repelem os seus desgostos para zonas escuras. Pior, não os consideram dignos de discurso, qualquer tipo de discurso. Depois há os outros os que amam a música. Pop, punk, tecno, jazz. Comercial, alternativa, série, dançável, cerebral. Nada é excluído dos seus afectos. Músicos como o guitarrista Noël Akchoté. Reza a lenda, que este parisiense de nascença foi primeiro exposto a Ligeti and Xenakis (tinha 12 anos), depois ao jazz e ao minimalismo de Steve Reich e Philip Glass. Na universidade, descobriu os clássicos do rock (clássico e moderno) e por alturas da sua passagem pelos EUA, encontrou o hardcore e o pós hardcore americano e a experiências de John Zorn. Antes de explodir para o hip hop, a soul, o techno e, finalmente a música improvisada, área a partir da qual desenhou um trajecto transversal a vários territórios (free jazz, pop, avant rock, electrónica, etc.). Quem duvidar da indiferença de Akchoté a capelinhas estéticas e caciques musicais pode comprová-la na lista de nomes com que gravou ou tocou: David Sylvian, Jim G. Thirlwell, Dylan Carson, David Grubbs, Luc Ferrari, John Giorno, Han Bennink, Kevin Blechdom, John McEntire ou Tatsuya Yoshida. Isto não significa que estejamos perante um actor secundário, um convidado discreto nos discos dos outros músicos. Noël Akchoté tem uma obra autónoma estruturada e sustentada interpretação lírica e complexa da guitarra. Que apela ao jogo, à imaginação sem qualquer tipo de freio, estilístico para inventar uma linguagem com que traduz, para si e para quem o ouve, canções pop (ouçam o esplêndido “So Lucky”, de 2007 com o selo da Winter & Winter), temas famosos do rock and roll e do punk (em Revolver Vol.1 & Vol.2, do ano passado) ou Sonny II (dedicado ao autor de Black Woman) ou canções Yiddish. Assim que tocadas por Noël Akchoté transformam-se noutra coisa, sem o cinismo da apropriação. Chamemos-lhe uma nova música, ainda por classificar, que olha sem hierarquias ou paternalismo, apenas com amor e curiosidade, para aquela que a inspirou. JM
Noël Akchoté c/ Margarida Garcia & Manuel Mota ⟡ Elieh / Sehnaoui Percussion Duo
O concerto será subdividido em duas partes – uma primeira a solo e outra na companhia dos cúmplices Manuel Mota e Margarida Garcia.
Sharif Sehnaoui e Tony Elieh
Sharif Sehnaoui e Tony Elieh são dois dos mais activos músicos do panorama musical experimental Libanês. Enquanto Sehnaoui provém do jazz e da música improvisada, tendo colaborado com Mazen Kerbaj e Raed Yassin no trio ‘A’ para desenvolver música a que se referem como “swing textural’, Elieh é principalmente um músico com background mais próximo rock, um dos membros fundadores da banda Libanesa The Scrambled Eggs, cujo corpo de trabalho percorre diversas direcções – do pop-rock ao experimental. Juntos têm desenvolvido um projecto único usando exclusivamente técnicas de percussão em cordas – guitarra e baixo – para criar um denso e intrincado turbilhão rítmico.