Parece que por mais prosa e poesia que surjam em redor de Norberto Lobo a sua arte reservará sempre uma epopeia maior do que alguma vez possamos imaginar. Um percurso discográfico iniciado há já sete anos, quando trouxe à moldura da música contemporânea portuguesa uma tela de cores e formas invulgares, e no entanto, tão pitorescas. Desde então a sensibilidade de Lobo vem acompanhando os ventos, as marés e as luas num constante ciclo de metamorfoses. De álbum para álbum sentimos um passo necessariamente diferente do anterior, nunca anulando contudo a pertinência do que ficou atrás, mas demonstrando agora uma locomoção mais vibrante do que nunca. Este processo de aglutinação de experiências, saberes e práticas guiou-o a esse ponto de chegada absolutamente imaculado que é ‘Fornalha’.
Assim dito parece coisa natural e certamente o será num sentido de perspectiva temporal. Mas de quanto vale essa capacidade de libertação da linguagem corpórea? A resposta vivamente reside nesta obra essencial, penetrando numa abstracção milagrosa capaz de abrir fendas de sonho e de encanto na mais seca das realidades. Efeitos e impressões de luz, melodias tecidas com minúcia ou a criação de saídas criativas impensáveis. E talvez o feito maior verificado nas cinco composições do disco seja a sensação de possibilidades infinitas. Por outro lado, recorre a uma panóplia de sons exclusiva no seu domínio (a voz é uma deles) bem além do foco central da guitarra. As múltiplas colaborações mantidas com outros exploradores sonoros poderão eventualmente ter contribuído para este descolar seguro e planante rumo ao fantástico, rumo ao transcendente (palavra entretanto meio desvirtuada pelo uso e abuso, mas aqui devida). Poderá ser uma nova fase iniciada ou um mais um marco importante na sua carreira. O tempo o dirá embora neste período preciso escutá-lo, senti-lo e cortejá-lo seja uma inevitabilidade mais que prazenteira.
‘Fornalha’ chega em formato vinil e cd pela editora suiça three:four que recentemente também tornou possível o LP ‘Sede e Morte’ de outro ilustre nacional, Filipe Felizardo. Por esta altura, a ligação de Norberto Lobo à ZDB assume-se como uma relação familiar todavia este será o primeiro encontro sob o tecto da emblemática Igreja St. Georges, no coração do bairro da Estrela. Ou por outras palavras, o primeiro grande concerto de 2015. NA