Parece que por mais prosa e poesia que surjam em redor de Norberto Lobo a sua arte reservará sempre uma epopeia maior do que alguma vez possamos imaginar. Um percurso discográfico iniciado há já oito anos, quando trouxe à moldura da música contemporânea portuguesa uma tela de cores e formas invulgares, e no entanto, tão pitorescas. Desde então a sensibilidade de Lobo vem acompanhando os ventos, as marés e as luas num constante ciclo de metamorfoses. De álbum para álbum sentimos um passo necessariamente diferente do anterior, nunca anulando contudo a pertinência do que ficou atrás, mas demonstrando agora uma locomoção mais vibrante do que nunca. Este processo de aglutinação de experiências, saberes e práticas guiou-o a esse ponto de chegada absolutamente imaculado que é ‘Fornalha’.
Assim dito parece coisa natural e certamente o será num sentido de perspectiva temporal. Mas de quanto vale essa capacidade de libertação da linguagem corpórea? A resposta vivamente reside nesta obra essencial, penetrando numa abstracção milagrosa capaz de abrir fendas de sonho e de encanto na mais seca das realidades. Efeitos e impressões de luz, melodias tecidas com minúcia ou a criação de saídas criativas impensáveis. E talvez o feito maior verificado nas cinco composições do disco seja a sensação de possibilidades infinitas. Por outro lado, recorre a uma panóplia de sons exclusiva no seu domínio (a voz é uma deles) bem além do foco central da guitarra. As múltiplas colaborações mantidas com outros exploradores sonoros poderão eventualmente ter contribuído para este descolar seguro e planante rumo ao fantástico, rumo ao transcendente (palavra entretanto meio desvirtuada pelo uso e abuso, mas aqui devida). Poderá ser uma nova fase iniciada ou um mais um marco importante na sua carreira. O tempo o dirá embora neste período preciso escutá-lo, senti-lo e cortejá-lo seja uma inevitabilidade mais que prazenteira.
Em Janeiro, abrimos o ano com a apresentação ‘Fornalha’ na emblemática Igreja St. Georges. Agora, quase a fechar o ano, Norberto Lobo regressa à ZDB para desvendar os novos temas que farão parte do próximo disco. NA