Uma banda? um projecto que existe ao sabor dos encontros fortuitos? Uma reunião de amigos em que a fala é musical e as palavras se transmutam em sons? A música e a obra dos Oba Loba vai deixando, enquanto passa, várias perguntas, sendo que a mais intensa e e irrespondível é: que música nos dão eles a ouvir?
Acendam, por exemplo, Sir Robert Williams (three four Records), o segundo e maravilhoso disco deste sexteto, outrora duo. Aparece sobre o lirismo dos sopros, espreguiçando-se, estendendo-se, abrindo-se, libertando acordes, melodias tímidas. Depois, recua, afasta-se, para um lugar mais distante, escurecido, que as guitarras e o piano virão alumiar num tumulto suave. Ao longo dos seus oito momentos, Sir Robert Williams faz-se numa sinfonia de cores e atmosferas que se vai movendo ao compasso da espontaneidade e da atenção, da alegria e do prazer. João Lobo, Giovanni di domenico, Ananta Roosens, Jordi Grognard, Lynn Cassiers e Norberto Lobo fogem do abraço das categorias e dos clichés, flutuando, voando do mar para a terra, do ar para o mar, se estes tivessem naturezas musicais. É por isso que o sentimento de viagem, entre tempos e territórios (geográficos, estilísticos, espirituais) se torna tão flagrante e, no entanto, tão acessível naquilo que se escuta em Sir Robert Williams. O ouvinte embarca com e na música, sem recear as descontinuidades, os desvios, as passagens. Escutem por exemplo o intervalo entre a luminosidade de “Honiara” e o desapego momentâneo de “Chuva No Zinco”. Ou o modo como nesta faixa, as vozes e os lamentos se vão imiscuindo, abrindo caminho para “Sir Robert Williams”.
Não é necessário falar de géneros e linguagens musicais a propósito deste álbum e dos Oba Loba. Eles atravessam subterraneamente a musica que ele guardou e, no mesmo movimento, afloram à sua superfície para a felicidade de todos os que acompanham esse movimento. Eis a experiência que este concerto promete, num jogo tão multicolor como a própria vida. JM