2016 até pode ter arrancado há pouco, mas numa perspectiva de produção musical portuguesa já deixou um marco semi histórico. De facto, nada faria apontar o surpreendente regresso aos discos de um dos mais celebrados cantautores da última década. Contas feitas, foram cerca de cinco anos sem qualquer novidade a sair do estúdio e escassas apresentações ao vivo. Como muitos outros criadores da sua geração, já se temia o pior: o tortuoso confronto entre a ‘vida real’ em paralelo com uma existência artística (e as decisões e dificuldades dessa relação). Felizmente esse longo hiato não foi sinónimo de arrefecimento ou paragem; tratou-de de uma pausa, como tantas outras, para que fosse possível surgir agora aquele que provavelmente será o seu melhor álbum até à data.
Na memória colectiva de quem se manteve sempre atento ainda existe um cordão afectivo a discos como Twice the Humbling Sun e April. Foram então documentos essenciais na feitura de canções folk com o selo nacional e um exemplo de relativo sucesso num circuito independente humilde, porém coeso e diversificado. Neste sexto acto em longa duração, A Rose is a Rose is a Rose tem todo o potencial de agregar antigos e novos seguidores. Traz dez canções triunfantes em qualquer que seja o seu tempo. Encorpadas e adornadas com savoir faire, sente-se a estrutura de uma banda por detrás destas composições. Os destaques melódicos do teclado, o contorno das formas do baixo, a delicadeza do piano e a marcha branda da bateria adensam e fazem emergir as imagens e as palavras idealizadas por Francisco. O tema de abertura A Charm prepara-nos para a dimensão que está prestes a abrir-se dali adiante, grandiosa pelo notável trabalho orquestral em redor de uma atmosfera invulgar, e no entanto, familiar na essência. Há espaço para a construção detalhada, a conjunto, porém é igualmente reservada a margem à meia luz, onde quase apenas se escuta voz e guitarra – e pouco mais. Harmonioso pelo modo como gere cada um desses momentos, é de notar uma revisão aprofundada de tudo o que já se encontra atrás, cravado no passado, enquanto expressa um claro rumo em aprimorar a matéria. Aqui as melodias não parecem trabalhadas num sentido mais racional de composição, elas simplesmente seguem uma intuição certa que as tornam apelativas, vivas.
A Rose is a Rose is a Rose é um objecto de paixão fácil, imediata. Ameaça ser um daqueles discos de audição recorrente, parte integrante do nosso dia-a-dia sem ainda o sabermos. Quanto a este concerto, será um reencontro entre a ZDB e Old Jerusalem, todavia – como as visitas de velhos amigos após longas ausências – cheias de novas histórias e experiências para partilhar. Nuno Afonso