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Ondness c/ Gabriel Ferrandini ⟡ trash CAN

qui12.12.1922:00
Galeria Zé dos Bois


Ondness c/ Gabriel Ferrandini

O futuro mora aqui. Num curso onde a electrónica assume múltiplas e variáveis soluções, a constante oferenda de Bruno Silva segue audaz e tão essencial como sempre. Parece conhecer, como escassos neste campeonato, pontos de conexão entre geografias espaço-temporais, reais ou imaginárias, tratando de criar um léxico sonoro global e simultaneamente insular. Entre memórias e visões, o novo disco “Meio Que Sumiu” é um objecto sonoro tentador. Um disco que racha terreno de modo firme e obviamente a chegar a tempo de entrar na equação das mais fortes edições deste ano – e com sérias réplicas para os tempos vindouros.

É meio impossível dissociar o que apresenta do que até então veio a criar. 2018 foi fortíssimo para Silva com um par de edições brilhantes sob a entidade Serpente. “Rituais 101” e “A Noiva” de certo modo reconstruíram, ou transportaram a outras latitudes, uma série de referências ao techno ou ao dancehall. Reportando uma genuína urgência, as estruturas que delas soube extrair soam absolutamente orgânicas e imprevisíveis, donas de si mesmas. Esta nova empreitada de Ondness é um culmiar destas pistas, já de si vigorosas, para algo maior. Naquela que é uma estreia no formato em vinilo, na casa SOUK (da família Discrepant) e com masterização a cargo do mago Rashad Becker, “Meio Que Sumiu” é uma fonte de energia em catadupa. Representa um passo firme no percurso do músico e mantém um constante encanto ao longo dos dez temas que encaixam este tumulto urbano de ressaca rave ou atração ritualista. Qualquer uma das duas vias é possível – e porque não ambas?

O modo despegado com que se movimenta, fá-lo acender chama onde menos se espera. Sente- se aquela brisa footwork que depressa se revela mágica ou a febre jungle que provoca suor nas paredes; o assalto é em todo o caso garantido e faixas como “Off Trail Marvila”, “Chance de Turf” ou “Crimes de Gente” resgatando facilmente qualidades sem nunca baixar guarda. Um conjunto de malhas mais orientadas para a pista, mas nem por isso menos ousadas. É um real prazer escutar música tão viva e mestiça como esta.

Noite imperdível, para escutar em primeira mão os passos em relação a um próximo álbum de Ondness, uma espécie de sequela deste ‘Meio Que Sumiu’ com o nome ‘Vai de Gente’ e a participação especial de Gabriel Ferrandini, músico vital que dispensa apresentações nesta casa. NA

trash CAN

Ainda com a melhor memória possível de NOVA VISTA, disco editado em meados de 2017, trash CAN continua a surpreender. A dissecação de elementos ligados à electrónica serve de pretexto para voos maiores em que o ritmo parece coordenar as trips caleidoscópicas, abrindo gentilmente espaço para alguma natureza dadaísta de uns Negativland ou The Residents, de olho aberto para a redenção. Não pertencendo a um mundo físico, nem tão pouco a um imaginado, trash CAN gosta de se movimentar no limbo das coisas; entre o ser e não ser, entre estar e não estar. Essa possibilidade sugerida por Schrodinger, celebrando o paradoxo e alimentando a especulação e imaginação. Por vezes distópico, noutras ocasiões mais fera de palco, é um dos nomes seguros a surgir de uma nova geração de intervenientes numa Lisboa fervilhante. Para acompanhar de perto. NA

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