‘Nestes últimos anos tenho feito vários projectos em que o meu espaço de trabalho é a paisagem contemporânea Portuguesa. Escolhi a câmara de grande formato (4X5 inch) porque para além da precisão e do rigor técnico, tem um processo de trabalho lento. Este método de trabalho é determinante na selecção e construção das imagens e no envolvimento que tenho com o que vou fotografar. Obriga-me a olhar mais que uma vez, a saber esperar, a estudar a luz, a ter que tomar decisões e a repensar a imagem.
Estou sempre a tentar construir novas formas de olhar para a realidade e para o espaço que me é apresentado. Procuro essencialmente os espaços e os momentos esquecidos ou rejeitados. Coisas que nos pertencem e que estamos habituados a olhar. Isso interessa-me na exacta medida em que me obriga a criar uma imagem e relacionar-me com o seu espaço tentando esquecer a sua história e contextos de recepção originais. Concentrando-me apenas na luz, no espaço e no tempo, sinto-me mais livre para criar novos contextos para as imagens, como se este tratamento quase escultórico lhes devolvesse uma dignidade aparentemente esquecida ou negligenciada. E assim, estas imagens tornam-se momentos que propiciam uma reflexão mais alargada sobre o modo como construímos a nossa identidade cultural e social.’
André Cepeda