O percurso de Giovanni Di Domenico é, no mínimo, fascinante. Longe de um perfil linear, enriquecido por experiências culturais e sócio-políticas na primeira pessoa, Domenico representa a depuração de um espírito vibrante que aglutina mundos, fundindo e recontextualizando-os numa linguagem somente sua. Enquanto autodidacta, manobrou intuições, visões e aprendizagens, para mais tarde fortalecê-las e permitindo um conjunto de técnicas formais que se aliaram às indagações inatas. Tem vindo a recorrer à experimentação baseada em sons ocidentais e não só, salvaguardando uma saudável harmonia entre a veia clássica melódica e a improvisação do jazz – com portas abertas a uma facção assinalável de música ancestral cuja passagem por África não é alheia (recorde-se que Domenico integra o colectivo Trance Mission, de Hassan El Gadiri). Um trabalho geneticamente transfronteiriço que gravita em torno da obra de mestres absolutos como Debussy, Cecil Taylor ou Paul Bley e que já o colocou ao lado de ilustres como Jim O’Rourke, Nate Wooley, Toshimaru Nakamura ou Chris Corsano.
Nesta apresentação única, conduzida pelo próprio e resultante de uma curta residência de criação na ZDB, reúne consigo um grupo distinto de colaboradores, alguns dos mais brilhantes artistas da nossa actualidade. David Maranha, Filipe Felizardo, Helena Espvall, Hugo Antunes, João Lobo, Marco Franco, Miguel Mira e Norberto Lobo, formam assim a Orquestra Listen/Silent, numa actuação de natureza electro-acústica disposta em ‘anagramas musicais’, segundo as palavras de Domenico. Apresentação ao vivo que convive, e tenta usufruir ao máximo, de momentos fugazes e irrepetíveis em que as forças e as fragilidades dessa natureza se alinham em encontros passíveis de diversas mudanças internas e assimilações externas. Um excepcional universo em constante transformação cuja surpresa é factor dominante. NA