Palácio da Memória é uma exposição do arquitecto João Ó que reflecte sobre a figura do sacerdote e cientista Matteo Ricci. Este jesuíta italiano do Século XVI, estabeleceu-se, via Macau, na China continental, tendo sido aceite e adoptado como intelectual pela dinastia Ming. Foram fundamentais os seus contributos na cartografia – é da sua autoria o primeiro Mapa-múndi ocidental em língua chinesa -, matemática, geometria, astronomia, geografia e teologia, passando pela publicação de um Tratado Acerca Da Amizade e pela difusão da técnica mnemónica utilizada para potenciar uma maior capacidade de memorização. A sua acção teve um papel determinante na dinâmica da relação intercultural, proporcionando uma nova visão do mundo e o reconhecimento mútuo entre as civilizações distantes de Oriente e Ocidente.
Em Palácio da Memória, apresentado no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, João Ó homenageia o jesuíta, recorrendo, alegoricamente, às técnicas de Ricci, tanto em termos de símbolos condutores, como, mais concretamente, nas três instalações de grande escala que se inspiram em aspectos da sua vida.
As três propostas, disseminadas no átrio de entrada do Museu, no Anfiteatro e numa sala de planta quadrangular, compõem arquitecturas de uma apurada precisão espacial – porque se integram e interagem nos diferentes espaços do edifício – e excêntricas – porque remetem para uma opacidade cultural devido ao recurso ao bambu como material utilizado, e também às formas construtivas que apresentam. A utilização dos colmos de bambu e das técnicas específicas de amarração dos caules sublinha a descontextualização do próprio bambu, que nas zonas tropicais do Sudoeste Asiático constitui material tradicional de construção, e aqui é a matéria plástica que comunica os conteúdos expositivos.
As peças foram erguidas in loco por mestres da profissão que, para executar o trabalho viajaram pela primeira vez à Europa e a Lisboa.
Cada uma das intervenções foi concebida para cada um dos recintos – morfologia, escala, volumetria, posição espacial –, e cada uma delas apela à experiência física e à percepção visual, aludindo para diferentes aspectos relacionados com a matéria, a memória e a cognição.