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Música
Concertos

Pan Daijing ⟡ Aires

qui25.05.2322:00
Galeria Zé dos Bois


Pan Daijing
Aires ©Pedro Jafuno

Pan Daijing

“Sinto que não estou só a coreografar o movimento; estou também a coreografar o espaço”. A citação na revista online NR aquando entrevista à artista, poderá soar uma razoável conclusão de quem vem vindo a acompanhar o seu trabalho. Nascida na região sul da China, Guiyang, porém, a residir em Berlim nos últimos anos, Pan Daijing faz parte de uma vasta lista de criadoras sonoras a redefinir a música contemporânea. Integrou em inúmeras performances e marcou passagem em certames de sonho como Sónar, CTM, Atonal ou Unsound. Do ruído tem gerado multiplicidades de expressões; do fogo crepitante do pós-industrial às margens da ópera e da música concreta. Trágica, emocional e transgressora – na tentativa de enquadrar possíveis traços ao indescritível.

Entre a voz da própria, sintetizadores analógicos e field recordings, a obra de Daijing completa-se, álbum após álbum. Lack e Jade depressa se tornam em clássicos modernos. Altamente texturais, as suas composições desbravam géneros, épocas e geografias; mais que demonstrar caminho, molda trilhos aparentemente impossíveis para destinos maiores. Circulando por temáticas associadas à mitologia antiga ou à emancipação social, a música de Pan Daijing questiona e confronta a natureza da sua própria realidade. Inevitavelmente, evoca a condição humana numa cerimónia imaginária de terra molhada e fogo crepitante.

O frenesim de apresentações em diversas instituições de arte e museus pelo mundo fora possibilitaram essa exploração mais conceptual em redor das suas criações sonoras e visuais. Em 2023, regressa aos palcos, mas com menos pautas e mais máquinas; a necessidade de voltar a espaços mais vívidos e intimistas em que os ritmos possam lançar o tom da noite. Por este motivo, um regresso a Lisboa que na verdade mais parecerá uma estreia. Naturalmente obrigatório. NA

Aires

Figura meio omnipresente no circuito musical lisboeta, Aires soma e segue num percurso merecedor de atenção. Além de músico, é um agitador de águas, tendo co-fundado o Colectivo Casa Amarela, entidade editorial com um espólio francamente prometedor de visão. Também faz parte dos projectos Fashion Eternal, Peak Bleak, Scolari e Hot Dancerzzz. Esta constância de energia em fluxo materializa-se agora num novo álbum, mais uma peça chave para melhor entender as buscas sonoras de Bruno Pereira enquanto Aires.

Chains of Silver, Chains of Gold parte de um conjunto hipotético de questões: “How many different shades of red there are? How many different drones can one extract from a single melody? Or from a single note? How many colours can one remember from a single memory? How long can a feeling last?”. Tudo inquietações naturais de quem opera sobre momentos capsulados em si, encontrando filigranas e esculpindo o som em diversas escalas e expressões. E Aires tem demonstrado que esse caminho não só é surpreendente, como se trata de algo, aparentemente, infinito – ou, pelo menos, cujo limite se expande a cada vez que se dá mais um passo adiante.

É pela mão da pequena, mas valiosa, editora finlandesa World Canvas, que este disco ganha forma. Composto por duas longas peças, e duas respectivas remisturas, Chains of Silver, Chains of Gold, oferece-nos a sensação de uma libertação lenta, como quem se deixa para trás o peso e a velocidade voraz do quotidiano. Existe uma real dinâmica na aparente luz estática que ilumina as paisagens rochosas desta música. As reinterpretações de Vanity Productions (da igualmente importante Posh Isolation) e de Romance Relic (precisamente da World Canvas), entrelaçam-se numa harmonia familiar, fazendo quase esquecer que estas são assinaturas externas do que antes escutamos. Um quadro completo de encontro e compromisso, capaz de saltar dentro da sua própria tela. NA

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