Formadas em 2010 pelas irmãs Maria e Júlia Reis, as Pega Monstro têm vindo a construir uma discografia nem sempre compreendida. Elevadas a uma condição de novas estrelas indie, foram confundidas com a atenção que alguma imprensa lhes consagrou. Pois bem, a música que faziam, e que continuam a fazer, está muito para além dos equívocos da mundanidade e de juízos precipitados.
Depois do disco de estreia, em 2012, e do álbum realizado a meias com B Fachada, Alfarroba veio mostrar uma banda que realiza tudo o que tinha prometido: melodias em corrida com (e contra) a distorção, vozes em júbilo ocioso e sofrido, letras que sublimam anedotas e histórias privadas, retratos de uma geração que se faz entre ensaios, cafés, discos e muitas malhas. Ao fundo, a “crise” e a gentrificação de uma cidade, “fenómenos” que as Pegas Monstro têm combatido em reencontros com amigos, ao som de Braço de Ferro, Branca ou Estrada, entre outras (das suas) canções.
Alfarroba é para já, repita-se, o grande feito do duo e afirma uma filiação evidente com o turbilhão rock dos Dinosaur Jr (via Buzzcocks) e a incandescência dos riffs stoner. Música que se derrete e nos derrete muito por culpa da levez etérea das vozes, das entoações gentis das palavras. Atraia-se a acusação de heresia. Em Estrada (uma das maiores canções de 2015) ou em Amêndoa Amarga, as Pega Monstro parecem escutar Né Ladeiras e em Fado D’ Água Fria mostram que também sabem, com a ironia e sinceridade devidas, ser fadistas. Do fundo das guitarras, que nunca abandonam, mostram uma versatilidade que vai sendo rara no universo do rock português. Fazem da confusão, da pequena eletricidade um grande e belo alvoroço que só elas sabem despertar e sossegar. Abram bem os ouvidos e deixem-se ir. JM