Veterano discreto da música portuguesa, Peixe tem vindo a deixar um cunho absolutamente admirável em cada etapa da sua vigorosa carreira. Se com os Ornatos Violetas edificou uma história de sucesso e de reverência junto do público, a fluidez e a liberdade criativa da sua guitarra conheceram outros felizes capítulos em bandas como Pluto, DEP ou Zelig. A linguagem sonora, essa, sempre revelou uma miríade de paisagens distintas e próprias de quem revela um domínio técnico exemplar e uma sede de experimentação genuína e constante. Do jazz ao rock, o saborear de cada território permitiu-lhe explorar, em paralelo, o sempre apetecível universo das bandas sonoras para cinema e teatro. Entre tantas frentes, ainda fundou em 2008 a OGBE (Orquestra de Guitarras e Baixos Eléctricos), numa das encarnações mais originais dos últimos anos.
Apneia será até então o disco mais celebrado a solo, um valente e apaixonante conjunto de composições dirigidas para a guitarra acústica e num registo muito além da aparente toada folk. Parece existir sempre algo mais a desembrulhar e a denotar em cada tema, como se o guitarrista deixasse também para nós, ouvintes, esse papel de descoberta e encantamento. Motor é já o segundo álbum que Pedro Cardoso assina sob o pseudónimo de Peixe. Editado há escassos meses, traz toda a harmonia e apuro melódico que fez dele um dos maiores do nosso tempo (ao lado de Norberto Lobo ou Filho da Mãe). Ora fervilhante, ora contemplativo, estas naturezas duais complementam-se em estórias e cenas dispostas ao real imaginário de cada um. Resumidamente, a liberdade de criar, escutar e sonhar. Haverá afinal maior oferenda do que esta? NA