Quando passaram em 2000 pela Aula Magna, os Pere Ubu foram uma tempestade violenta e misteriosa. O palco abanou, David Thomas dançou e gritou, revisitaram-se grandes canções (de “Heart of Darkness” a “Modern Dance”), o teclado (mesmo sem Allen Ravenstine) voltou a cobrir de ácido os restantes instrumentos. Para quem assistiu foi uma lição fabulosa de rock, uma (muito necessária) interrupção nas narrativas que se contavam. Para quem não sabe, naquele ano havia quem celebrasse, de sorriso franco o electro-clash e louvasse as virtudes dos revivalismos. A sério, a sério. Ora para contrariar semelhantes perdas de tempo, ali estava aquele concerto, com um repto sincero: ouçam, ouçam de perto, muito de perto, a banda que influenciou os DNA os, Hüsker Dü, os Pixies, os Pavement, os They Might Be Giants ou os Guided by Voices. Foi uma cura. Mas como chegou, a tempestade desapareceu levando com ela o corpo de Thomas e as memórias dos Pere Ubu.
Ei-lo agora de volta, não com os Two Pale Boys, mas ao volante da banda de Cleveland. A tempestade promete ser a mesma. Prog? Punk? Rock? Industrial? Garage? Imaginem uma linha que atravessas estas categorias para trazer o futuro aos nossos ouvidos. Essa linha são os Pere Ubu e chegará esta noite perseguida e perseguindo “Carnival of Souls” (sim, o título é uma apropriação do nome do filme de culto), magnífico disco. Magnifico disco para um magnífico concerto. JM