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Concertos

Pete Swanson ⟡ EITR

qui09.01.1422:00
Galeria Zé dos Bois


Pete Swanson
EITR ©Vera Marmelo

Pete Swanson

Após uma década declaradamente marcada por um fervilhante circuito DIY, com toda uma nova geração de músicos a escalar as potencialidades do ruído e a alcançar novas audiências, muitos artistas têm vindo a regressar de novo ao submundo. Tratou-se de um breve momento de maior exposição que ditou carreiras, revalorizou artistas, contaminou inúmeras colaborações e submeteu ainda alguns ao silêncio. Os Yellow Swans foram uma parte seminal deste período, um duo essencial ao entendimento, desenvolvimento e consolidação desta quase-comunidade global de ouvidos postos na energia sonora mais bruta. A morte anunciada da banda com ‘At All Ends’ e a despedida perfeita de ‘Going Places’, trazia então uma dimensão profundamente meta-cósmica já bastante distante da incontrolável máquina de ruído branco que os caracterizava ao início. Conscientemente ou não, os álbuns contêm um inegável sentimento de devastação emocional, inevitável no final das grandes relações.

Terminado o glorioso capítulo dos Yellow Swans, Gabriel Saloman e Pete Swanson tomaram diferentes rumos a solo. O primeiro através de edições limitadas em pequenas editoras, fiel ao espírito inicial de gravações caseiras e apresentações esporádias; o segundo afirmou-se como um explorador sonoro de primeiríssima linha. E de facto, observar Swanson nesta espécie de jornada épica tem-se revelado um exercício privilegiado. Um criador em constante progresso, assente num contínuo auto-conhecimento artístico cujo percurso lhe tem permitido as mais incríveis paisagens musicais dos últimos anos.

A pluralidade da obra e a sua diversidade funcionam, em perspectiva, como um todo ainda em evolução. Esse cenário confirma-se através da toada atmosférica de discos como ‘Feeling In America’ (Root Strada, 2010) ou ‘I Don’t Rock At All’ (Three Lobed Recordings, 2011), até ao flirt com a techno nuclear de ‘Man With Potencial’ (Type, 2011) ou ao animal mutante de ‘Punk Authority’ (Software Records, 2013) Como refere em recentes entrevistas, aquilo que produz em estúdio encontra-se intimamente relacionado com o que faz no seu dia-a-dia profissional. Os estudos e carreira na área da psiquiatria desde cedo lhe despertaram uma sensibilidade extra para olhar, questionar e compreender o mundo com outros olhos. O convívio com doentes mentais, sem-abrigo e criminosos sexuais permitiu-lhe lidar, de um modo muito directo, com a faceta mais dura do ser humano. A luta da realidade vs. alucinação ou a dúvida da doença vs. lucidez; qual a fronteira, afinal? Pois em certa medida, essa mesma crueza do contexto funciona como factor activo no seu processo criativo. Modus operandi esse que o próprio reconhece como incerto e surpreendente, uma vez que o controlo humano aqui acaba por ser ínfimo perante a carga eléctrica da música e, obviamente, as suas interacções internas e externas. Ruído estático ou puro estado de catarse são alguns dos resultados provenientes deste tratamento certamente abençoado por Tesla.

Quase uma década depois dos Yellow Swans se terem apresentado no palco da sala Aquário, Pete Swanson estreia-se agora a solo, munido do seu já habitual set composto por sintetizadores, osciladores, fitas magnéticas e pedais. Uma ocasião especial, cujo concerto será o culminar de uma residência artística na ADDAC System, empresa nacional fabricante de sintetizadores modulares para todo o mundo (cujos clientes, entre muitos outros, incluem ilustres como Depeche Mode, David Sylvian ou Lloyd Cole). Uma noite de explosões estrelares a céu coberto. NA

EITR

Nascendo do encontro entre o saxofonista Pedro Sousa e o turnablist Pedro Lopes, EITR soa a um eterno som em estado pantanoso. São sobretudo ambientes sombrios e enevoados, adornados por detalhes ora desconcertantes, ora impressionistas, em que a samplagem se funde com a improvisação e abre portas à inclusão de sons emergidos durante a criação em tempo real. Apesar de jovens, a experiência de ambos em matéria de exploração sonora permite a segurança criativa necessária à indagação de êxito. Sem nunca perderem a noção essencial de nervo, constroem peças sólidas e catalizadoras de mantras híbridos. O recente ‘Trees Have Cancer Too’ (Mazagran, 2013) reforça este percurso e deixa um registo bem lúcido de alguma da melhor produção nacional fora de convenções. NA

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