Estreia lisboeta do duo Brötzmann / Noble na que será a mais completa ofensiva de saxofone (ocasionalmente também clarinete) e bateria que a cidade conhecerá nos próximos tempos. A abertura total que caracteriza a dinâmica entre ambos tem no free jazz a principal arma de arremesso mas, entre rajadas, sobra espaço para levar à frente outros estilos, nomeadamente o swing reminiscente das big bands dos anos 40. Entenda-se: swing à maneira deles.
De resto, o que dizer de Peter Brötzmann? Nome maior do jazz europeu, dono do timbre mais reconhecível do período pós-Ayler, a pena branca alemã nunca parou, não vai parar nunca. Dos primeiros álbuns dos finais dos anos 60 (todos essenciais: For Adolphe Sax, Machine Gun e Nipples) às gravações mais recentes (o excelente I Am Here With You, que capta precisamente o seu duo com Steve Noble em concerto) Brötzmann lança o caos, sopra o grito. Entre a técnica, e algo maior que a técnica, circula atonalidade feita tensão constante – pergunta-mo-nos o que é que estará prestes a explodir dali para fora e não tem nome, só se sabe que é algo maior.
Por seu lado, o inglês Steve Noble pegou nas baquetas no começo do motim pós-punk (fez parte dos Rip Rig and Panic, esteticamente próximos da militância pós-psicadélica dos Pop Group), integrando no seu discurso as polifonias africanas que sempre interessaram às mentes mais abertas desse movimento. A partir do final da década de 80 inicia um percurso nas músicas improvisadas, designadamente através do colectivo Compay, coordenado por Derek Bailey. A relação com Brötzmann iniciou-se há cerca de cinco anos, altura em que criaram um trio com o baixista John Edwards (outro nome incontornável da improvisação europeia). Em duo, Brötzmann e Noble essencializam a um só tempo o que fica dessa tempestade a três. O barulho condensado, arremessado para o que há-de vir. MP