Pharmakon é Margaret Chardiet, compositora nova-iorquina que, nos últimos anos, se tornou numa figura de proa do noise nova-iorquino. Munida apenas de um microfone e de um laptop, fabricou três discos, Abandon, Bestial Burden e Contact (este com edição prevista para finais de Março , mais uma vez na Sacred Bones) que afirmaram a sua música sobre dois sentidos: um conceptual e outro visceral. Palavras e ideias, de um lado, carne e som do outro. A energia, a violência e a repetição são trazidas por uma reflexão não-académica, intuitiva, em torno do processo biológico do corpo e da relação deste com a mente.
As experiências pessoais de Chardiet (há três anos, foi-lhe removido um quisto benigno do abdómen numa intervenção médica urgente) podem explicar esse caminho, transfigurado em Contact – disco que explora a possibilidade de, através da electrónica, a música colocar em sintonia os ritmos dos corpos e estabelecer uma ligação inédita, física com a audiência.
Aquilo que Pharmakon propõe não é uma cura ou qualquer tipo de terapêutica, é uma experiência que promete ser metafísica: o ouvinte, se disposto a tal, acaba envolvido numa realidade sonora distinta, por vezes violenta, muito violenta. Na linhagem estética que se revela em Contact, é bom lembrar, escutam-se os Throbbing Gristle, os Whitehouse, os Swans; dominam as power-electronics e o noise destituído de qualquer estrutura pop ou rock. É música horizontal, na qual o puro ruído se confunde com o grito, e o instinto parece guiar os gestos da compositora. Mas música vital que, sem concessões, se move, com urgência desmedida, na direcção do outro. Música que, se pudesse, tocava nos corpos. JM