Programa da mais invulgar excelência na igreja anglicana St. George traz de volta a Lisboa as experimentações transdisciplinares em música e vídeo do compositor norte-americano Phill Niblock. Figura da mais crucial importância no evoluir da estética minimalista ao longo dos últimos cinquenta anos, explora, normalmente através da incorporação de um conjunto de instrumentos convencionais como a guitarra eléctrica, o violino ou a flauta, as possibilidades microtonais do drone – aquilo a que Charles Ives chamou em tempos “as notas entre as ranhuras” –, criando um corpo de trabalho absolutamente singular, de permanente reequacionamento, sem paralelo na música contemporânea.
O programa que a ZDB apresenta na Estrela prevê a estreia nacional de três composições de Niblock: “Hurdy Hurry”, “Organ” “2 Lips”. Entre os intérpretes, quatro improvisadores portugueses em permanente estado de graça, André Gonçalves, David Maranha, Manuel Mota e Margarida Garcia (em guitarras e, no caso de Maranha, também em órgão da igreja), e o artista sonoro francês Yven Etienne, que também irá a apresentar uma peça sua, UNUN (em hurdy gurry, instrumento de cordas, espécie de realejo mutante de potencial infinito). O próprio Niblock providencia a vertente vídeo da noite, com excertos manipulados das suas gravações “movement of people working”, resultado de olhares laboriosos na China, em Portugal e no Lesoto. MP