No indie-rock norte-americano encontram-se vários exemplos de bandas que fizeram um caminho ao ritmo da persistência, teimosia e a crença inabalável de quem não quer, não pode, não dá para ter outra carreira. Pense-se nos Yo La Tengo – quase a fazer quarenta anos de carreira -, que precisaram de quase uma década para chegar à Matador e convidar o mundo a olhar para eles, para o passado, e, desde então, nem eles nem nós parámos de olhar para o futuro. Os Pile fazem parte desta categoria de bons teimosos. No activo desde 2007, naturais de Boston, a residir hoje em Nashville, aceitaram a lenta progressão como um caminho a percorrer, apostando em lançamentos contínuos e digressões, digressões, digressões. Pode-se dizer que começa agora a dar fruta que se veja. “All Fiction” (Exploding In Sound), a editar em Fevereiro, o novo álbum de estúdio em dezasseis anos, confirma o crescendo criativo desde “A Hairshirt of Purpose” (2017) e um bom seguimento a “Songs Known Together, Alone” (2021), daqueles álbuns que saíram durante a pandemia que têm tanto de desolador como de fascinante: sobretudo porque pôs a banda a reinterpretar temas já gravados e editados, despindo-os para o mundo com um filtro que comunicava o presente.
Trio de rock clássico, constituído por Rick Maguire (voz, guitarra), Alex Molini (baixo) e Kris Kuss (bateria), os Pile preparam-se para celebrar o lançamento de “All Fiction” com uma digressão de um mês pela Europa. O mais difícil está feito, na última década estiveram a ensaiar para tocar o disco da maioridade, aquele onde afinam o esqueleto punk/indie dos primeiros álbuns, com a ideia de canção inacabada de “Songs Known Together, Alone” e uma vontade de experimentar configurações e sons que estão para lá da formatação clássica do trio rock. O vigor e o power de sacar pérolas de 3 / 4 minutos continua todo lá. Agora só desabrocha para vários lados. O momento dos Pile está aqui. AS