Quarteto composto por figuras meritórias do fértil panorama experimental cuja actividade mais ou menos inconstante tem servido de forma digna a criação de uma música continuamente intrigante e parcimoniosamente construída sem rede. Em Pinkdraft, Ricardo Jacinto no violoncelo, Nuno Torres no saxofone alto, Travassos na electrónica analógica e Nuno Morão na percussão aplicam-se num exercício de contenção que nunca resvala para as armadilhas estéreis do near silence e da improvisação lower case mais cabotina. Profundos conhecedores das possibilidades criativas erigidas da tensão entre o silêncio e o som, os quatro músicos embrenham-se num campo aberto de gestão espaço-temporal em constante mutação, afoito a crescendos balofos e não-acontecimentos sabotadores. Som em suspensão, numa estaticidade volátil feita da procura minuciosa e assertiva pelos sons que realmente interessam. Com ‘2010’ editado recentemente pela Creative Sources – registo gravado no ano que o intitula – os Pinkdraft regressam à ZDB – depois de um belíssimo concerto neste espaço aquando do festival Sonicscope – na companhia de Angelica Salvi. Artista espanhola com formação clássica, actualmente sediada no Porto e que tem na harpa uma escolha de instrumento tão inusitada quanto fascinante para se enredar nas areias movediças da composição mais experimental e da improvisação. Tendo já trabalhado com diversas orquestras ao longo dos anos, tem também colaborado com músicos tão essenciais como Evan Parker ou Han Bennink. Um encontro de expectativas assumidamente vastas, como que a lançar achas a uma fogueira já por si imprevisível. BS
Pinkdraft c/Angélica Salvi ⟡ André Gonçalves & Riccardo D. Wanke
André Gonçalves & Riccardo D. Wanke
Tendo em conta o percurso riquíssimo de cada um e os caminhos em potência abertos com este encontro, é com alguma naturalidade e enorme expectativa que se aguardam os resultados desta colaboração entre estes dois magos da electrónica mais indefinível e aventureira feita por aqui – ou em qualquer lado. André Gonçalves é um vortex absoluto de criação, que vai desde a construção de maquinaria electrónica mais ou menos indefinível, ao conhecimento profundo das capacidades tímbricas, harmónicas e sensoriais dessa mesma. Tendo já realizado diversos trabalhos nos mais diversos contextos – como a instalação ou a direcção de workshops – ultimamente temo-lo encontrado particularmente activo enquanto membro do Carro de Fogo de Sei Miguel e em duo com o baterista Luís Desirat, adoptando neste último caso o nom de guerre que aplica nas suas pouco frequentes aparições a solo – Feltro. Natural de Itália, mas com residência em Portugal há já vários anos, Riccardo D. Wanke é um explorador incansável, a operar com toda a sensibilidade e domínio apaixonado sobre o som enquanto matéria inqualificável com todo o acerto anímico. Sem se prender a um instrumento base, Wanke tem-se reinventado continuamente e sempre com a mesma segurança de condução e diálogo através de inúmeras colaborações com gente de respeito como Rafael Toral, Manuel Mota, David Maranha ou Filipe Felizardo. BS