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Posh Isolation Night c/ Croatian Amor ⟡ Khalil – H20P ⟡ Astrid Sonne ⟡ Soho Rezanjad

Sáb07.04.1822:00
Galeria Zé dos Bois


Croatian Amor
Khalil - H20P
Astrid Sonne
Soho Rezanejad

O tempo também é o que fazemos dele. A máxima chega-nos de Copenhaga e o exemplo materializa-se no longo trabalho da Posh Isolation. Em cerca de uns meros três anos, a editora independente tem logrado manter um ritmo de edições frenético, mas respeitando uma qualidade irrepreensível. Pensar-se- ia no perigo de tanta oferta inundar a pertinência de cada disco, mas felizmente o receio não se aplica neste caso. Cada proposta traz um valor pessoal e em constante evolução. Concluímos que a experimentação é aqui claramente entendida como uma via e não como um destino.

Nascendo do encontro de quatro amigos, tudo começou com o intuito de criar, partilhar e apoiar música em que acreditavam (haverá, na verdade, outra forma?). A crença deles tornou-se na crença de tantos outros, não alinhando numa estética hermética que confinasse a editora a um determinado viveiro criativo. Para além das várias dezenas de edições, nos mais diversos formatos, é possível escutar um espectro sonoro delirante – em doze meses o output pode tomar forma de ruído bruto, techno apocalíptico ou aproximações à composição neo-clássica. Ou por outro prisma, a música a ser tratada como merece. Perante um reino tão bem povoado, é inglório apontar um ou outro artista na tentativa, mínima que seja, de representar a matéria que oferecem. Por isso mesmo, a ZDB reserva uma noite inteira à Posh Isolation através de quatro convidados dispostos a provar o que até agora se discursou. NA

Croatian Amor

Com uma sensibilidade algo pós-humana, por vezes próxima de Arca ou Tim Hecker, o iconoclasta Loke Rahbek põe em prática a melhor feitiçaria em prol de um registo que não pertence ao mundo real. Coleciona paisagens, revisitadas ou imaginadas, impregnadas de micro-estímulos em forma de melodias ou pormenores milagrosos. A ascensão espiritual é real, mas a implosão emocional também. Uma e outra complementam-se, um Ying e um Yang, uma cara e uma coroa, cujas naturezas trazem bem mais do que se faria prever. O lugar da descoberta não acontece, simplesmente; revela-se sim, a um ritmo sedutor e perverso. E sabemo-lo: não há melhor strip-tease que esse. NA

Khalil – H20P

A algumas léguas de distância do icebergue de Croatian Amor, Khalil – H20P filtra a luz do sol como o auto tune configura a sua voz. São muitas as realidades que a sua noção de pop parece atingir. Aplica-se um entendimento do género com um trato próximo e, no entanto, distante do que poderá ser aceite para uma maioria. Aveludada e simultâneamente rugosa, a linguagem de Khalil assenta na força das oposições, das impossibilidades e das coisas ditas anti-natura. Fractura o techno, roça o rnb e extrai destes, e outros encontros, uma visão alienígena e apaixonada que toma como sua. “ The Water We Drink” é um daqueles álbuns que faz orgulhar o uso do termo contemporâneo. Efectivamente uma obra que não poderia surgir noutra altura, senão neste aqui e agora. Belo, incómodo, sagaz. NA

Astrid Sonne

Estrela maior. O trabalho de Sonne é puro deleite sensorial, com a sabedoria e segurança de quem abandonou o academismo clássico para se entregar à electrónica dos laptops. Pela partilha de sonho e abordagem sonora, é demasiado tentador não a situar numa família de mulheres incríveis deste tempo como Holly Herndon, Helena Hauf ou Laurel Halo. Estilhaços de ritmos quebrados, nebulosas multi-colores e reorganização de caos em algo celestial são resultados merecedores da melhor contemplação – e feliz desorientação – por parte do ouvinte. A fronteira entre o orgânico e o digital esbate-se a cada instante, numa relação umbilical com o que a rodeia. Prova disso é o conjunto de composições que tem realizado em locais específicos como ruínas urbanas ou estações de metro. O mais recente disco “Human Lines” é um objecto exótico como poucos. NA

Soho Rezanejad

O olhar melancólico de Soho Rezanejad distancia-se dos artistas anteriores, ainda que seja possível traçar uma linhagem genética. De modo inteligente, o slow burn presente nas suas canções assume-se como a propulsão perfeita para um escapismo quase vampiresco. Paira uma espessa aura nostálgica numa estrutura essencialmente pós-punk, orgulhamente de resgatada à memória. Todavia, o que poderia ser uma nuvem negra a pairar, sem beira nem eira, trata-se afinal de um veículo de libertação/confrontação em que as canções traduzem a complexidade, muitas vezes antagónica, da sempre eterna condição humana. Não haverão respostas na ponta da língua, tão pouco indicações nas pontas dos dedos; é “apenas” (e use-se devidamente as aspas) um estado de catarse, para ser apreciada em conjunto. Significa também uma oportunidade rara de a ver por cá, a solo, numa altura em que acaba de se juntar aos Lust For Youth. NA

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