A Galeria Zé dos Bois apresenta Primeiras Impressões de uma Paisagem, exposição individual de João Nisa, constituída por uma instalação de vídeo elaborada a partir de material filmado no interior do Aqueduto das Águas Livres, nos arredores de Lisboa, através da utilização de um dos seus segmentos como uma série de dispositivos de camera obscura.
Trabalhando sobre algumas das pequenas janelas que, a intervalos regulares, deixam a luz penetrar no espaço escurecido do Aqueduto, João Nisa filma directamente projecções de grandes dimensões da paisagem exterior sobre as rugosas paredes de pedra, com as quais se fundem até à quase completa indistinção. Produzidas através de um intricado processo técnico, que restitui os enquadramentos originais das projecções tal como determinados pela arquitectura do Aqueduto, as imagens obtidas adquirem um carácter surpreendente, resultante da sua natureza quase etérea, da sobreposição de camadas, e da permanente indecidibilidade entre fixidez e movimento. Os planos filmados por Nisa apresentam-se como experiências da duração, sendo a paisagem registada, maioritariamente rural mas com forte intervenção humana, atravessada por pequenos acontecimentos que estabelecem um ritmo e uma musicalidade muito próprios, para os quais contribui a componente sonora, igualmente gravada no interior do Aqueduto.
A exposição na ZDB propõe um percurso ao longo de um conjunto de projecções, dispostas nas várias salas da galeria, criando as condições para que cada uma delas possa ser apreendida em toda a sua singularidade, mas também como parte integrante de uma cadeia, instaurando o som um efeito de contaminação que reforça o carácter imersivo da instalação.
Assentando em imagens de imagens, projecções de projecções, que deliberadamente ocultam a sua forma de produção, Primeiras Impressões de uma Paisagem dialoga com a tradição da pintura de paisagem e com toda uma vertente do chamado cinema experimental, proporcionando uma intensa experiência perceptiva e sensorial.
“É espantoso, aliás, que fiquemos tão surpreendidos com aquilo que vemos quando fomos elucidados sobre o processo que permitiu a formação destas imagens, como quando o ignoramos completamente. A tal ponto o que é dado a ver constitui uma anomalia perceptiva.” (Raymond Bellour, texto da folha de sala)
PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE UMA PAISAGEM
Instalação vídeo, 6 projecções HD, 16:9, cor, som
8’29’’ / 7’26” / 11’18” / 11’07” / 10’56” / 3’41”, loop
2021-22
Apoio financeiro: Direcção-Geral das Artes, Centre national des arts plastiques (Image/mouvement), Câmara Municipal de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian
Apoio: Museu da Água da EPAL, Residência Atelier 105 – Light Cone (Paris)
A programação paralela da exposição inclui um ciclo de cinema, constituído por um pequeno conjunto de filmes escolhidos por João Nisa para dialogar com o seu trabalho, sobretudo oriundos do domínio do chamado cinema experimental, decorrendo a primeira sessão na Cinemateca Portuguesa e as outras quatro na ZDB. Terão igualmente lugar conversas de João Nisa e Natxo Checa com críticos e teóricos convidados, como Sérgio Mah, Erika Balsom e Olivier Schefer.