Um leve arranque e coros processados acomodam a voz de Rita Onofre para avisar “Eu só sei que vai doer”. Assim arranca “introlúdio (tanto mundo)”, canção-convite de “Hipersensível”, álbum de estreia de Rita Onofre, lançado no passado dia 17 de fevereiro e que será apresentado na ZDB. Foi durante a pandemia que se começou a fazer ouvir, quebrando o enguiço de começar nestas andanças: primeiro em “Inéditos Vodafone” (com “Ao Pé de Mim”) e depois nos Novos Talentos Fnac (com “À Porta”). Vivia-se em 2020 e o bom arranque motivou Rita a dar o passo seguinte, um EP em 2021, “Raiz”.
Voltando a “introlúdio”, na faixa de entrada e na final, “interlúdio no fim (abrir)”, a voz da cantora-guitarrista surge abafada, fantasmagórica, diferente das oito canções que encaixam ali no meio. Como se fosse necessário limitá-las entre dois postes e, ao fazê-lo, deixar o ouvinte surpreender-se com a luz e à-vontade dos feitiços de “Hipersensível”. “Perdoei” e “Rancor” seguem-se a “introlúdio”, também o primeiro e segundo single do álbum de estreia, e concretizam as possibilidades de uma primeira obra que amadurece nos ouvidos.
O ritmo de Rita Onofre é escorreito, quando se voltam a ouvir coros processados, como em “Passo”, estes expandem-se, correm vivos e felizes e condensam as pinceladas de jazz que a cantora coloca nestas músicas pop que nascem da guitarra e balançam sobre a voz. Canções curtas, preocupadas em colocar no centro todo o âmago e introspecção que levaram à criação de “Hipersensível”, fruto de dois retiros da artista (actualmente com 26 anos), onde parou para pensar na vida, em si e em como adaptar o que lhe vai na cabeça em canções que apregoam a existência do quotidiano como catarse. Ao todo, são pouco mais de vinte minutos, distribuídos por dez temas de alguém que espera em 2023 concretizar da melhor forma o que começou em 2020 e superar-se da melhor forma que sabe, com canções. AS