Tendo já previamente colaborado num excelso quarteto onde pontificavam também os ilustres Joe McPhee e Kent Kessler e que deu origem ao impressionante This is our Language pela Not Two Records em 2015, Rodrigo Amado e Chris Corsano reforçam esta aliança transatlântica num binómio de intuição e diálogo valoroso que aguardamos com as mais altas e fundamentadas expectativas. Duas personagens cujo papel, pleno de visão e engenho, tem sido merecidamente recorrente no palco da ZDB, e se encontram aqui em duo no contexto de uma pequena tour europeia e com um álbum a sair algures este ano.
Rodrigo Amado tem sido um dos mais mais activos e singulares músicos no seio do jazz e da música improvisada ao longo de quase duas décadas. Tendo sido recentemente nomeado um dos cinco melhores saxofonistas tenor em actividade pela prestigiada El Intruso International Critics Poll, tem vindo a delinear uma linguagem cada vez mais sua, num sopro capaz de açambarcar a tradição ao mesmo tempo que a leva por caminhos sempre intrigantes e em constante redescoberta. Com um currículo excelso em colaborações com gente tão meritória como Taylor Ho Binum, Luís Lopes ou Gerard Cleaver, tem sido através do seu Motion Trio – com Gabriel Ferrandini e Miguel Mira – que tem revelado com maior frequência e regularidade a sua vitalidade, sem esquecer um fascinante disco homónimo do Wire Quartet editado em 2014 pela Clean Feed – editora de que foi um dos fundadores. Num ano particularmente fértil, Amado chega à ZDB numa altura em que se esperam também as edições de um álbum em colaboração com Marco Franco e Gonçalo Almeida e do muito aguardado novo álbum do Motion Trio, Desire & Freedom com lançamento previsto para Setembro.
Chris Corsano regressa ao Aquário pela terceira vez este ano, após um celebrado concerto em duo com Joe McPhee e da tempestade eléctrica dos RANGDA – ao lado das guitarras de Sir Richard Bishop e Ben Chasny. E é sempre com a maior gratidão que o recebemos, numa demonstração cabal de reinvenção e inventividade virtualmente infinitas. Baterista de recursos múltiplos e únicos, de uma linguagem em constante expansão, Corsano assume um papel de indiscutível peso em inúmeras frentes da música mais exploratória e desafiante que o levou a tocar artistas tão visionários como Jim O’Rourke, Jandek, Thurston Moore ou mesmo Björk. Acercando-se de forma mais contundente a linguagens afectas ao jazz mais livre aquando do início da sua colaboração regular com o saxofonista Paul Flaherty no início deste século, tem vindo a encontrar-se frequentemente com músicos como Evan Parker, John Edwards, Paul Dunmall ou o português Hugo Antunes, num trajecto de uma riqueza e valores que estão ainda muito longe de se esgotar. BS