Reflexo público de todo este longo, longo período de confinamento, Refraction Solo de Rodrigo Amado foi projectado em solidão como forma de canalizar energias e reflectir sobre o seu próprio percurso e as bases do mesmo – os seus “mestres”, os fantasmas que pairam sobre e são também, a sua música. Recolhendo sugestões, trejeitos e premissas centrais de temas de grandes como Ornette Coleman, Sonny Rollins ou Thelonious Monk para os refractar num discurso livre e improvisado, Amado insere-se numa tradição, ao mesmo tempo que lhe dá continuidade, sublimando esse passado glorioso no momento presente. Numa linguagem que, desses “ensinamentos” e com uma visão muito própria se tornou sua, fazendo dele um dos saxofonistas mais reverenciados do panorama jazzístico europeu. Elogios justos para um músico de ofício permanente, franco e corajoso, quer através do seu Motion Trio, do Wire Quartet, do quarteto que mantém com Joe McPhee, Kent Kessler e Chris Corsano e vários encontros sempre prementes, vinha mantendo uma actividade salutar que nunca imaginamos estar tanto tempo escondida de olhares públicos. A acontecer em reclusão. E a ser agora revelada. BS