Artista omnipresente nas mais variadas movimentações que têm vindo a acontecer em solo nova-iorquino, Samara Lubelski é de certa forma “a música dos músicos” pelo modo como parece habitar o imaginário colectivo dessa cidade. Figura aglutinadora das mutações estéticas operadas no seio da música de pensamento livre, esteve na génese dos Hall of Fame e colaborou frequentemente com a entidade Tower Recordings, para além de passagens por projectos como Sonora Pine ou Jackie-O Motherfucker, contribuindo decisivamente para uma vasta cartografia impossível destas músicas sem lugar.
Paralelamente, esteve também no lado técnico da barricada, através da gravação de discos importantíssimos para bandas como os Magik Markers (I Trust My Guitar, Etc), Sightings (Arrived in Gold) ou Double Leopards (Halve Maen). Ultimamente, tem estado em constante actividade nos Chelsea Morning Light, banda de Thurston Moore que editou este ano o homónimo álbum de estreia na Matador, e com os quais tem estado em longa digressão por todo o mundo. Foi aliás a acompanhar o mítico músico que Samara visitou a ZDB pela última vez, com o seu violino a assumir um papel fulcral nos dois concertos em nome próprio que o ex-Sonic Youth deu na capital.
A solo, tem vindo a alternar entre um registo mais cancioneiro de risco sagaz e imaginário etéreo patente em discos como ‘Spectacular of Passages’ e na transcendência drone para violino captada para a posteridade no maravilhoso ‘In the Valley’. É sob os desígnios desta sua música mais expansiva e desafiante que Samara regressa à ZDB – com novo álbum nestes moldes na calha através da Ultra Eczema – com o instrumento a assumir-se como um portal para transfigurações anímicas do som, em constante mutação das suas particularidades, elevando a uma linguagem própria as “escolas” de gente ilustre como Tony Conrad ou Takehisa Kosugi. BS