Há motivos para crer que a banda sediada em Fornelo (Vila do Conde) é um caso de estudo. Uma ilustração viva de como num circuito musical rico e fervilhante, mas de dimensões de mercado proporcionais ao tamanho do país, se atinge um estatuto de culto. Nada mais foi como antes desde o Verão de 2013, altura em que ‘Sofrendo Por Você’ tomou forma de clássico pop instantâneo. Longe da sugestão tropical do título, os cerca de nove minutos da canção pautam-se pelos parâmetros de uma Alemanha metronómica dada a planagens estratosféricas. Matéria que já antes no EP anterior, a banda havia de deixar patente no imaginário de quem os escutava. Um sucesso imensamente minoritário que se fez notar no gradual entusiasmo em redor dos Sensible Soccers enchendo salas de espectáculo de Norte a Sul e ingressando na editora checa AMDISCS ao mesmo tempo que as entrevistas e artigos em seu redor se multiplicavam.
Enquadrar o surgimento do álbum ‘8’ nesta história equivale a acrescentar um capítulo basilar. Isto porque nesse formato de longa duração, não só provaram dominar uma admirável consistência sonora; deram-nos também a certeza que não se querem ver reféns de etiquetas ou alvo de expectativas. Ainda que não se veja nos Sensible Soccers um retrato de um grupo de genética experimental, a experimentação será certamente uma ferramenta que parece definir boa parte do seu processo criativo. E deslocando-se em terreno desconhecido, todas as direcções de viagem apresentam-se justamente válidas.
‘Villa Soledade’ é o aguardado novo disco e o motivo desta apresentação no Aquário. Um lançamento que não surge como afirmação ou mudança a algo, surge antes como parte de um fluxo de ambientes capsulados em canções. Dos rituais de Terry Riley à geometria de Brian Eno, a elegânia dos elementos é demasiado inebriante para não ser notada e admirada. Claro que a terminologia pop cai aqui como uma gota de água num charco, ou seja, dilui-se para uma esfera de fusão e unidade onde às tantas o funk se aglutina à electrónica e o rock se evapora para outro estado. Canções sem voz ou letra, mas com alma de gente que partilha contos do dia-a-dia e assobia melodias no momento. Talvez seja essa ideia de comunicação pura que sustenta o nosso apego às suas canções e elas a nós.
Vê-los esta noite a pisarem o palco e a interpretarem publicamente estas novas composições pela primeira vez faz-nos sentir como parte de um encontro há muito iniciado e nunca interrompido. Tornar tudo isso ligeiramente mais físico e partilhável é um dos papéis deste concerto. NA