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Música
Concertos

Senyawa ⟡ Pedro Alves Sousa

qui19.05.2222:00
Galeria Zé dos Bois


Senyawa

Mais do que um bandão, e que não existam dúvidas que o são, Senyawa são também, faz mais de uma década, a evocação mais feérica e actuante de uma necessária descentralização no plano das músicas mais fora, nascida fora dos centros costumeiros e levada para fora de centros mais inexplorados – dicotomia centro fora em várias realidades. Mensageiros na linha da frente de uma vibrante movida em solo indonésio, que nos trouxe já nomes como Gabber Modus Operandi enquanto outros vão escapando à obscuridade – a ‘Anthology of Experimental Music From Indonesia’ pode ser boa porta de entrada, mas existe ainda muito para desbravar – o duo de Java tem dado contributo decisivo para que coisas bonitas aconteçam, através de inúmeros projectos paralelos, colaborações, difusão e trabalho de campo: a rádio e festival Nunasonic ou a editora e promotora Yes No Wave, tudo nascido da necessidade. Formados em 2010 por Rully Shabara e Wukir Suryadi, invocam os espíritos da música tradicional javanesa, o abandono e a atitude do punk, o volume do noise e do metal mais esotérico e o lado cerimonial e extático do psicadelismo numa música de comunhão e transcendência electrificada, recorrendo à expressiva voz de Shabara e à electrónica quitada e instrumentos inventados por Suryadi.

Educados no desembaraço e bravura do DIY, calcorrearam as ruas de Java em concertos estilo guerrilha para se expandirem numa rede que os levou a todo o mundo, festivais como o Unsound ou o Dekmantel, a colaborações com gente como Stephen O’Malley, Damo Suzuki ou Keiji Haino e até um pequeno documentário realizado por Vincent Moon. Contando já com respeitável discografia e após a aclamação a ‘Sujud’ de 2018, tiveram em 2021 a manobra louvável e inusitada de lançar ‘Alkisah’ por 44 editoras diferentes espalhadas pelo mundo, como que a projectar uma ideia de colectivismo global. Perante o espanto generalizado no Ocidente, Shabara comentou numa reveladora entrevista à revista Wire: “I just want to hear that it’s interesting and the music is good, not just ‘wow! Indonesians can make something like this?’ Well, we were doing this years ago, actually. And we are still doing it. We just didn’t have the infrastructure to support and promote it. So the West never ‘discovered’ Senyawa. All this ‘weird Indonesian stuff’ they are finding about – yes, it’s already there.” Está dito. BS

Pedro Alves Sousa

Saxofonista de rodagem imparável e energia vital para diversas movimentações nesta e noutras cidades, reconhece-se a Pedro Alves Sousa uma capacidade tão rara quanto natural de habitar e confundir diversas esferas musicais, que na passagem pelo jazz em várias formas, pela electrónica mais arisca, pelo rock enviesado e improvisações sem nome nem lugar nunca perde o acervo e cunho pessoal dos mais honestos e inconformados. Da parceria de longa data com Gabriel Ferrandini – em duo, Volúpias, Casa Futuro ou formações mais ou menos perenes – a EITR, colaborações pontuais com bandas como Black Bombaim ao mais recente conluio com Simão Simões. E por aí, para trás e para diante numa rede expansiva que tem sublimado uma linguagem tão continuamente nova quanto singular. Ofício abençoado. BS

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