Ao longo das dez canções de “Communion”, o álbum de estreia de Sister Ray (Ella Coyes), persiste uma dificuldade em perceber de onde isto vem e para onde vai, pela forma como existe tão intensamente um pouco acima da linha de água. A sua voz ouve-se na expectativa de explodir, de existir com raiva e assumir um pouco da contenção que persiste – de diversas formas – nos temas. “Communion” experiencia-se como particular, pessoal, de um modo que transcende os corredores da música popular. Talvez a origem Métis – uma população indígena do Ontario, Canadá -, a educação, explique esta abordagem que vence – ou convence – da melhor forma as coisas ordinárias. Há uma forma única de contar aqui experiências vividas por todos. Os sentimentos banais parecem outra coisa qualquer. Talvez por nunca acontecerem, explodirem, ou existirem como achamos que tem de ser. Aprende-se qualquer coisa aqui.
No estúdio contou com o trabalho da dupla ginla (Joe Manzoli & Jon Nellen). Com a experiência deles, Coyes conseguiu criar atmosferas perfeitas que acomodam o que explora com a voz. O som da guitarra, por exemplo, atravessa décadas de singer-songwritting indie, entre os sons suspensos dos 1990s e a procura de um som mais direto/roots das guitarras deste século, tacteando ligações entre o blues e o country. Só que Sister Ray não soa a nada disso, existe com um som suspenso, que evita modelos tradicionais ou rótulos do momento.
Talvez por isso, a ideia inicial persista durante tanto tempo ao longo de “Communion” e após sucessivas audições: não se entende bem de onde isto vem e para onde vai. Nas letras, Coyes trabalha muito emoções/motivações, ou inventa descrições que exploram sensações sobre lugares ao invés de sentimentos ou moral sobre terceiros. Para nós, deste lado, ouve-se a não concretização como algo acutilante e desesperante. Enquanto Sister Ray, Coley transforma a dor no banal e numa coisa que se pode experienciar como permanente. O mais bizarro é que, ao ouvi-la, não se quer sair de lá. AS