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Slauson Malone 1 ⟡ Meia/Fé

ter14.11.2322:00
Galeria Zé do Bois


Slauson Malone
Meia Fé

Slauson Malone 1

Drawing is the ultimate trust. These sketches show the magic that comes once a line is made.

Jasper Marsalis abre assim um perspicaz ensaio sobre essa força intrínseca, meio que inexplicável, que é o acto de rabiscar formas no papel; uma incursão ao inconsciente e ao momento de pura liberdade que acontece em forma de stream of consciousness. Ideia essa que se reflete na música enquanto Slauson Malone 1, um dos intervenientes mais criativos no rap neste pedaço temporal. A Quiet Farwel, 2016-2018 trazia todo um incrível mundo novo de expressões e visões. A diáspora afro, o abstracionismo e tantas outras evocações que une o passado ao futuro – aqui num só recipiente. As fundações do jazz surgiam derretidas em batidas aquosas e as vocalizações inusitadas resgatavam soul, indie rock e mutações hip hop de tratamento sónico. Agora, à distância, o imediatismo de um clássico instantâneo.

Vergangenheitsbewältigung foi o capítulo que se seguiu, num EP recontextualizando e levando mais além, a matéria responsável pelo estrondo que foi o disco de estreia. O mote de pegar na mesma exacta canção para a transformar num outro tema deu-nos assim um álbum inovador, uma espécie de cadáver-esquisito sonoro que depressa se tornou inesquecível. Façanhas não alheias ao radar da Warp, selo maior na eletrónica mais exploratória, que convidou Malone 1 a ingressar no seu catálogo em pleno 2023. Excelsior promete, desde o primeiro segundo, uma experiência sensorial a quem o escuta. Dezoito composições, em modo propositadamente snipet, atravessam o psicadelismo, a folk e um surrealismo soul, tão delicado quanto enigmático. Num rasgo de delírio, dir-se-ia tratar-se de um capítulo sonoro da série Atlanta ainda por realizar.

No seguimento de uma muito aguardada tour que arranca em Seattle, o músico chega a Lisboa neste manto de curiosidade e entusiasmo. Será difícil imaginar o que for quando pisar o palco. Sabe-se da sua presença e da sua obra, assim como de que o acto performativo é uma filosofia de vida a que o próprio não abre mão. Poucas, mas poderosas certezas de uma celebração da incerteza diante de nós. NA

Meia/Fé

Bando de gente muito jovem aqui da cidade que se desdobra com toda a cumplicidade entre os projectos YUNG XALANA, 80 TU & EU e casaxangai ao abrigo de MEIA FÉ e chega aqui a casa após estreia na Festa da Cafetra na SMUP, numa espécie de contínuo com o (quase) veterano colectivo na urgência e forma de fazer acontecer. Nascida como solução possível contra a torpor e sufoco que se tornou Lisboa, MEIA FÉ tenta encontrar momentos de luz e comunhão no meio desta merda através das suas canções de romance DIY: a dream pop de 80 TU & EU, a sujeira lo-fi catchy de YUNG XALANA e a indie pop desencantada de casaxangai. Pejadas de auto-referencialidade e menções a gente como King Krule e Gerard Way as letras de MEIA FÉ discorrem essas vivências e anseios pós-adolescentes de um modo tão escorreito quanto esperto. Tudo muito honesto, vivido com o necessário jogo de cintura para tentar fazer disto algo melhor. Nas suas palavras: “Contar os dias. Ou fazer que os dias contem. Um de cada vez”. Mantra para estes dias. BS

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