Manhãs cinzentas, smog, construções morrinhentas, acastanhadas, ruas que outrora se preencheram com operários nefastos. Noites de chuva frequentadas por boémios, brigas entre hooligans, autoridades sem mãos a medir, punks e tantos outros anarcas. O clássico estereótipo da urbe britânica, persistentemente retratado nos media do passado e, muitas vezes replicado por vários conteúdos ficcionais. A virilidade de um povo encharcado de versos rudes, reproduzidos por tantas e tantas bandas ou artistas locais. Os versos de Sleaford Mods são assim, como um punho bem fechado nas nossas faces, por entre palavras cuspidas emerge o espírito punk, os movimentos Oi! e mod, ecoam como footbal chant marcado por graves colossais, capazes de desmoronar um centro urbano inteiro. Envolvem-se na raiva do punk, erguem-se entre a fauna das subculturas britânicas, complementam-nas por deambulações digitais e alcançam paisagens da nostalgia post-punk até à reivindicação rap. Sleaford Mods são como um rastilho à espera de resplendor, períodos de tensão e hostilidade decadente.
Jason Williamson e Andrew Fearn editaram uma dezena de álbuns, três EP’s e uma colaboração com Prodigy no disco, The Day Is My Enemy de onde resultou a faixa “Ibiza”. Foram dez anos de revolta e um pub que anunciava tapas espanholas à inglesa, que culminam em English Tapas (Rough Trade Records, 2017). Uma década de autonomia desenfreada, estrofes de emancipação, e é nesta liberdade absoluta da música dos Sleaford Mods que Iggy Pop se revê e admira. Sendo que o lendário vocalista dos Stooges introduziu a actuação da banda no BBC Radio 6 Music Festival, em 2017.
É como se não restasse nem mais uma alma no poder, e este duo de Nottingham não pretende tomá-lo de assalto, deseja partilhá-lo connosco, distribuí-lo no cimo do um palco. Na ZDB prevê-se uma noite de gládio, numa união de choque com dois corpos em ponto de ebulição. JH