Cortada é jarda e surpresa.
Jarda, no sentido mais velocista e musculado do termo, música bruta e sem tempo a perder, derivação indie do punk-hardcore de uns Black Flag; bastardos dos Big Black, Rapeman, The Jesus Lizard e restantes pigfuckers (RIP Steve Albini), os instrumentos afiados como serras, a voz desafiante e gutural. Mas também uma jarda janada, a guitarra a soltar vapores psicadélicos, a secção rítmica a soar anfetaminada, misto de soltura e vigor.
E surpresa porque, porra, não esperávamos isto deles. Nada do que tínhamos ouvido a Pedro Pimenta Almeida nos Hércules ou nas produções electrónicas que assina como Dusmond fazia supor que o homem tivesse nascido para ser vocalista de uma banda de hardcore. E o mesmo aplica-se ao trabalho do baterista Bernardo Pereira com Mordo Mia ou Trovador Falcão; até aos ex-Aerogasmo Lourenço Abecasis que gravou o primeiro disco a solo de Magz e ao vivo é o seu braço direito e Daniel Fonseca que acompanhou Vaiapraia durante uns anos, apesar do trabalho feito com MEIA/FÉ nos últimos tempos.
Surpresa, também, por no primeiro mini-EP, acabado de editar, parecer que passaram a vida toda a fazer este glorioso chinfrim e mais nada. Produzido por Miguel Abras e Leonardo Bindilatti, metade de Putas Bêbadas e peças fundamentais da Cafetra Records, que cedeu o estúdio, tem só três faixas e dura pouco mais de sete minutos. Mas, como uma boa foda, não precisa de durar mais. Bate onde e como tem de bater, sem perder a tesão nem abrandar o ritmo. No final, fica toda a gente satisfeita. A ansiar pela segunda ronda.