A partir da obra inédita de José Miguel Gervásio, “Sonatina” é uma história de amor entre duas pessoas marcadas pelo desejo pela normalidade na vida. Ele: um tipo contemplativo, sem chama e sem ritmo, envolve-se com uma mulher no final de uma matiné dançante. Ela: dactilógrafa humilde mas independente, seduz sem convicção um dos muitos homens com quem se cruza no bailarico dos sábados à tarde. Acordam juntos, quase por engano ou por desprezo, e assim viverão um amor prático e delicado por alguns meses que um dia acabará. Uma relação com data marcada, daquelas que deixam marcas.
”Sonatina” é o primeiro texto literário que encenamos. A escolha desta novela gráfica começou por ser um desafio em torno da sua adaptação como espectáculo teatral. Sem qualquer antecedente, iniciámos os ensaios sem ideias definitivas. Transpôr o universo visual do texto para a cena parecia uma tarefa impossível. Concentrámo-nos então no aspecto musical: da palavra e do silêncio. Criámos uma narrativa alternativa que permitia que o discurso do narrador quebrasse as barreiras temporais, que se confundissem os planos, que se diluíssem as identidades das personagens. Descobrimos sentidos que estavam escondidos por detrás dos cenários minuciosamente compostos pelo autor, e dos acontecimentos relatados com indiferença. Aos poucos tornámos o texto nosso. Decorámos e iluminámos o cenário, introduzimos uma banda sonora ao vivo, criámos personagens, inventámos um espectáculo.