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Música
Concertos

Soul Glo ⟡ Hetta

seg05.06.2322:00
Galeria Zé dos Bois


Soul Glo

Soul Glo

Em confronto directo desde 2014 perante as adversidades, preconceitos e apatia generalizada que corroem a cena hardcore norte-americana, num reflexo óbvio da própria sociedade que lhe dá poiso, este (agora) trio originário de Filadélfia – após a saída de Ruben Polo na sequência de acusações de abuso – entrou a pé juntos no panteão do género deste século com Diaspora Problems na gigante Epitaph. Manifesto de intenções bem vincado, por parte de uma banda que em contra-corrente com a homogeneidade branca que ainda perdura no seio do punk hardcore, onde o risco de se tornarem um token é tão real quanto prontamente assumido pelos próprios. Tomada de consciência tanto da ruptura para com o cânone como da inevitável aglutinação dessa mesma posição, Diaspora Problems escancara numa verborreia imparável, pejada de referências, um sentido de um humor bem ácido e uma honestidade desarmante as inevitáveis contradições, anseios e expectativas que atiçam fogo ao descontentamento – meio citando a estreia dos Refused – e tentam fazer desse confronto motor para a mudança.

Disco que abre uma visão panorâmica sobre os supostos limites de género, na senda de clássicos passados como ‘The Shape of Punk to Come’ de Refused, ‘…Burn, Piano Island, Burn’ de Blood Brothers ou, já bem recentemente, ‘Glow On’ de Turnstile, Diaspora Problems sublima todas as coordenadas dos petardos incendiários e breves de ‘The Nigga In Me’ e ‘Songs To Yeet At The Sun’ num todo mais conciso, complexo, mas igualmente directo. À jugular. Contando com convidados como BEARCAT ou Mother Maryrose e amplamente elogiado por todo o lado, da Wire, à Pitchfork ou à Kerrang, ‘Diaspora Problems’ dá réplica sónica à fúria e à mensagem na lírica de Pierce Jordan, evocando pedaços de rap, apontamentos electrónicos agrestes, o caos do grindcore e breaks metaleiros, num frenesim constante que saca os necessários ganchos para se fixar no consciente colectivo. Porque é para isso que esta música vive. Fazer da raiva um chamamento comunal. BS

Hetta

Conjurado no Montijo, Hetta é um quarteto constituído por Alex Domingos, João Pires, João Portalegre e Simão Simões. Tocam música rápida, caótica, navegando os universos do mathcore, do screamo e do noise, embrulhando-os num pós-hardcore que tanto pisca o olho aos idos anos 90 e 00, como procura dar a mão aos ventos do futuro. No seu EP de estreia, Headlights, gravado por Leonardo Bindilatti e Miguel Abras e lançado em 2022, estão presentes os suspeitos do costume: gritos opressivos e saturados, bateria hiperactiva e guitarras incisivas. A parede sonora, tanto em Headlights como nas apresentações da banda ao vivo, é a breve explosão de energia em que a ânsia por fôlego é promessa cumprida, e em que a vontade é de cada vez fazer mais.

Nuns concisos 13 minutos, Headlights é uma colecção de músicas que se contorcem entre várias correntes da música mais abrasiva, mas também nunca rescindindo da sua identidade própria. Em ‘Sugar Glass’, a cadência locomotiva e a parede sónica caótica aproxima-nos ao pós-hardcore dos Converge e At The Drive-In, enquanto ‘Most Men’ e ‘Violent Pope’ dão espaço a ritmos mais abertos e dançáveis, confortáveis algures entre os These Arms Are Snakes e os temas mais corridos dos eternos The Locust. Em ‘Mystery Meat’ e ‘Angel Bait’ piscam o olho ao emoviolence dos Orchid ou Usurp Synapse, com uma turva massa sonora tanto paisagística como confrontacional. ‘Prizefighter’ conclui o EP de forma mântrica, com a repetição de uma singular frase a acompanhar o caudal crescente da instrumentação.

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