Em confronto directo desde 2014 perante as adversidades, preconceitos e apatia generalizada que corroem a cena hardcore norte-americana, num reflexo óbvio da própria sociedade que lhe dá poiso, este (agora) trio originário de Filadélfia – após a saída de Ruben Polo na sequência de acusações de abuso – entrou a pé juntos no panteão do género deste século com Diaspora Problems na gigante Epitaph. Manifesto de intenções bem vincado, por parte de uma banda que em contra-corrente com a homogeneidade branca que ainda perdura no seio do punk hardcore, onde o risco de se tornarem um token é tão real quanto prontamente assumido pelos próprios. Tomada de consciência tanto da ruptura para com o cânone como da inevitável aglutinação dessa mesma posição, Diaspora Problems escancara numa verborreia imparável, pejada de referências, um sentido de um humor bem ácido e uma honestidade desarmante as inevitáveis contradições, anseios e expectativas que atiçam fogo ao descontentamento – meio citando a estreia dos Refused – e tentam fazer desse confronto motor para a mudança.
Disco que abre uma visão panorâmica sobre os supostos limites de género, na senda de clássicos passados como ‘The Shape of Punk to Come’ de Refused, ‘…Burn, Piano Island, Burn’ de Blood Brothers ou, já bem recentemente, ‘Glow On’ de Turnstile, Diaspora Problems sublima todas as coordenadas dos petardos incendiários e breves de ‘The Nigga In Me’ e ‘Songs To Yeet At The Sun’ num todo mais conciso, complexo, mas igualmente directo. À jugular. Contando com convidados como BEARCAT ou Mother Maryrose e amplamente elogiado por todo o lado, da Wire, à Pitchfork ou à Kerrang, ‘Diaspora Problems’ dá réplica sónica à fúria e à mensagem na lírica de Pierce Jordan, evocando pedaços de rap, apontamentos electrónicos agrestes, o caos do grindcore e breaks metaleiros, num frenesim constante que saca os necessários ganchos para se fixar no consciente colectivo. Porque é para isso que esta música vive. Fazer da raiva um chamamento comunal. BS