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Spectrum

— Sonic Boom/Pete Kember

seg24.04.1722:00
Galeria Zé dos Bois


No fantástico documentário da BBC dedicado ao Radiophonic Workshop, The Alchemists of Sound, Pete Kember surge a discutir o legado de Delia Derbyshire e menciona as longas conversas telefónicas que teve com a notável pioneira da música electrónica na fase final da sua vida. A devoção de Kember por Derbyshire ou a sua recente edição das EMS Tapes de Peter Zinovieff, através do seu próprio selo Space Age Recordings, são sinais de erudição e de um respeito pela história de alguma da mais avançada e exploratória música electrónica produzida no Reino Unido.

É nesse contexto que deve ser entendida a sua discografia. É preciso recuar até 1986 para encontrar o primeiro álbum dos Spacemen 3, grupo que Kember criou com Jason Pierce. O álbum tinha por título Sound of Confusion e não deixa de ser curioso que uma das designações hoje usadas por alguns criadores que reclamam a influência do Radiophonic Workshop e de aventureiras experiências posteriores – incluindo nomes como Broadcast, Boards of Canada ou os projectos Spectrum e Experimental Audio Research do próprio Pete Kember – seja a de Confusing English Electronic Music (como a que assina o projecto Moon Wiring Club).

Posicionando-se algures entre um psicadelismo cósmico com pontos de contacto com o que também faziam os Stereolab e a electrónica assombrada que o Radiophonic Workshop desenhava directamente na fita analógica para sustentar filmes institucionais sobre a arquitectura brutalista dos anos 70 ou os caminhos de ferro, Kember estreou-se a solo com a designação Sonic Boom em 1989. O projecto levava o título de Spectrum e equilibrava guitarras e sintetizadores na procura por remotas regiões sonoras.

Spectrum tornou-se depois projecto autónomo com a edição de Soul Kiss (Glide Divine) em 1992 a que se seguiu Highs, Lows and Heavenly Blows em 1994, trabalhos ainda devedores de uma interpretação muito própria das vocações exploratórias do psicadelismo que entendia a guitarra como interface para comunicação com o além. Com a associação do projecto Spectrum à etiqueta Space Age Recordings, com a edição em 1997 de Forever Alien, as derivas tectónicas apoiadas na síntese analógica tornaram-se mais prementes. Um dos temas tinha por título “Sounds for a Thunderstorm” e era dedicado a Peter Zinovieff, o pioneiro inventor do icónico sintetizador Synthi da EMS. Como Spectrum, Kember colaborou também com os lendários Silver Apples de Simeon Coxe em A Lake of Teardrops de 1999.

Ainda nos anos 90, Kember criou o Experimental Audio Research, colectivo que tem também uma alargada discografia e onde se abriu espaço para a colaboração de notáveis tão diversos como Kevin Shields dos My Bloody Valentine, Kevin Martin dos Techno Animal (e mais recentemente The Bug) ou o veterano Eddie Prevost dos AMM: improvisação livre, out rock, electrónica experimental – todas as coordenadas são admitidas no particular mapa cósmico de Peter Kember.

Actualmente a residir em Portugal, Kember, enquanto Sonic Boom, tem também erguido uma sólida carreira como produtor, tendo-se nos últimos anos envolvido em ultra visíveis trabalhos de Panda Bear ou MGMT, com os músicos com quem trabalha a serem unânimes no elogio à forma como aborda o estúdio, sempre em busca do menos óbvio, da tangente, da fuga à norma.

Agora, Kember vai estrear-se com o projecto Spectrum na ZDB, numa rara aparição em duo, momento imperdível de exploração de zonas não cartografadas da música com a electrónica a servir de veículo privilegiado para a descoberta. RMA

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