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Música
Concertos

Super Ballet c/ Hailu Mergia

dom03.06.1819:00
Galeria Zé dos Bois


Já muito se discursou sobre a música tradicional da Etiópia, sendo a clássica série Ethiopiques o maior portal para esse vasto e maravilhoso mar. No entanto, a história de Hailu Mergia ainda merece um outro prisma, um outro destaque. Em prol disso, a Awesome Tapes from Africa (ATFA), inicialmente blog de música e actualmente uma das editoras mais fascinantes do momento, deu uma segunda chance a uma lenda viva. Uma chance de se repor alguma justiça face ao esquecimento, mas igualmente uma chance de criar algo novo. Assim surgiu “Lala Belu”, o álbum que reúne material inédito de Hailu, cerca de vinte anos após uma pausa sabática nos estúdios e apresentações. A descoberta da sua música garrida e telúrica, acarreta um percurso a outras épocas e outros espaços, soando como uma memória exótica e elegantemente fora deste tempo presente.

Durante as últimas décadas, trocou as teclados do sintetizador pelo volante de um táxi em Washington. Todavia, não se poderá dizer que tenha abandonado o que tanto adora. Na bagageira do veículo, tem vindo transporta o orgão que o acompanha sempre que conduz pela cidade. E é nos tempos mortos que treina escalas e melodias, mantendo as suas composições num fluxo diário. Esta natureza, indissociável de si mesmo, levou a um regresso aos palcos neste ano de 2018. O segmento das reedições da ATFA deu boleia a discos como “Wede Harer Guzo” ou “Tche Belew” para mais tarde materializar o inimaginável: um magnífico novo álbum, exuberante e pertinente. Nas seis composições que agora vêem luz do dia, ressalta o pulsar do jazz envolto num groove incessante, pleno de possibilidades criativas. Escutar “Lala Belu” é uma experiência algo sinestésica, em que as texturas e os ritmos se fundem com miragens de um passado e um futuro. Paira, acima de tudo, um optimismo em forma de mensagem.

Aos setenta anos, Hailu Mergia demonstra um vigor técnico, legitimidade de palavra e capacidade de sonho infindável. Sem o querer fazer de modo consciente, demonstra-nos que este tempo de agora também é dele – e com imenso ainda por entregar. Um dos diversos feitos deste retorno majestoso, passa por saber cortejar a liberdade e a pureza. Reconhecê-las como pilares para uma celebração da existência que é a sua. Seja dentro de um táxi, de um estúdio ou sobre um palco, a sua magia inata de nos fazer viajar continua a trazer consigo gerações de passageiros. A próxima paragem é aqui – e para já, sem qualquer regresso previsto. NA

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