Talvez nunca como hoje o termo pop tenha encontrado tantas transfigurações e levantado tantas questões. Tão universal e, no entanto, tão enigmático, artistas como Sophie, Dawn Richards, Charlie XCX ou AYA souberam explorar e solidificar uma abordagem totalmente livre e vagamente cunhada na web como hyperpop. Se durante demasiados anos os pólos entre o mainstream Vs underground ditaram uma mão cheia de preconceitos e pré-posicionamentos, essas e outras artistas desfiguraram fronteiras e apontaram novas expressões. Letras confessionais imbutidas numa estética maximizada ao detalhe, distorção, uso de auto-tune e uma visão musical deliciosamente híbrida; no fundo, abrir as portas da percepção da pop.
Coordenadas que Namasenda não seguiu simplesmente, mas tomou como igualmente suas – esculpindo-as às suas vivências. “I don’t care about labels because I’ve been labelled my whole life, being a Black woman”, assim colocou o assunto numa entrevista à publicação online Crack. Escutando o mais recente álbum Unlimited Ammo é óbvia essa paixão profunda pelo R&B, eurodance, trap, metal ou EDM. Um complexo cadáver-esquisito sonoro em que se maximiza o improvável e se alimenta a surpresa, resultando em composições genuínamente exploratórias. Vocalizações delicadas em fusão com cenários multi-coloridos tingidos por convulsões rítmicas e mutações digitais.
Heroína vinda de uma qualquer edição manga imaginária, Namasenda traz futuro e uma montanha-russa de emoções ao comando de uma euforia gloriosamente fragmentada pela angústia dos dias. E sim, a pop (também) deve ser isto. NA