Da natureza mais delicada, honesta e ténue no domínio das canções, ‘Songs’ registou no ano passado e para a posteridade o encontro entre o idiossincrático guitarrista e a jovem performer, dançarina e vocalista. Com edição pela Slub, ‘Songs’ privilegia a emoção crua e atmosférica da cantilena em detrimento do rigor austero da composição, onde a fragilidade da voz de Saeki e os arranjos esparsos evocam para si uma criação momentânea imbuída numa aura beatífica e rarefeita. Da essência.
A criar desde o final dos anos 90 uma linguagem à guitarra somente sua, Sugimoto é uma das almas iluminadas da improvisação, amplamente reconhecida e reconhecível na sua depuração e introspecção que leva a que se fale muitas vezes – e pela sua própria genealogia – em aproximações a estados zen. Na verdade, não deixa de ser inevitável reconhecer nele algumas particularidades do legado cultural nipónico, dos gestos essenciais e rigorosos da caligrafia japonesa à verdade de expressão pura da dança Butoh, traduzidas num silêncio mediado por notas e acordes que cortam com tudo aquilo que seria supérfluo e reduzem à música ao elemento mais essencial. Colaborador habitual da cartilha associada ao movimento de improvisação livre Onkyo – que se traduz em algo como “reverberação do som” – de nomes como Sashiko M e Otomo Yoshihide, teve também encontros abençoados com luminários do silêncio como Radu Malfatti, ou Keith Rowe.
Com formação em ballet clássico e contemporâneo, Minami Saeki tem-se desdobrado em várias facetas que passam pela performance, pela representação e pelo canto, tendo já colaborado com nomes como Junichiro Tanaka, Manfred Werder ou Wakanaka Ikeda. Apesar de um contacto inicial com Sugimoto em que a música deste último lhe foi difícil de compreender, foram conjuntamente chegando a um entendimento comum, que após uma ideia inicial em que o álbum seria feito de composições para somente para voz acabou por dar origem à beleza suspensa de ‘Songs’. Uma calma que invade o Aquário. BS