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Tarta Relena ⟡ Joana Bagulho

seg26.07.2119:00
NOVO NEGÓCIO Rua do Açúcar 52, Armazém 3


© Duna Vallès
© Mariana Veloso

Tarta Relena

Tradicional e transgressor, o trabalho do duo feminino catalão tem sido uma afirmação maior na produção europeia. Helena Ros e Marta Torrell são as duas artistas que tratam amiúde a tradição oral, levando-a às possibilidades estéticas da música contemporânea. A premissa parece familiar, replicada aqui e ali, com maior ou menor mestria, mas nas Tarta Relena existe um interesse profundo no acto de explorar o desconhecido e o intemporal. Uma busca que não recorre a fórmulas ou tendências estéticas, senão a ir mais fundo, camada a camada, até ao centro da terra. Ora Pro Nubis foi o disco que imaculou este antigo mundo novo, projectando-as para um público mais global. Com ele vieram as inúmeras apresentações ao vivo onde se incluem passagens pelos festivais Mutek, Eurosonic ou Primavera Sound, apenas para nomear alguns.

A cartografia mediterrânica das Tarta Relena faz-se de uma constante e cuidada etnografia sonora em que os pedais de efeitos, sintetizadores e DAWs conferem um espectro sónico latente e pontual. O espaço e o silêncio são elementos fulcrais a esta magia; é deles que se intensifica a polifonia das vozes, ora suspensas e feéricas, ora mais primais e selváticas. Evocam a essência de Medulla de Bjork e parecem partilhar da inovação dos ucranianos DakhaBrakha. Na verdade, o ângulo de expressividade surpreende pela sua consistência. Mesmo quando a electrónica espreita, tal não arromba a fragilidade ou ofusca a força de onde tudo nasce. Um equilíbrio que se revela matriz no modo como elevam esta música simultaneamente sacra e urbana, ao nível de uma autêntica experiência.

Já este ano surgiu Pack Pro Nubis, duplo álbum que reúne algumas das gravações anteriores e a que se junta de uma mão cheia de remisturas (abrindo outras dimensões e revelações). De resto, a oportunidade de as ver cá é um elogio à irreverência e um convite a um ritual indescritível. NA

Joana Bagulho

O extenso percurso de Joana Bagulho revela uma inquietude nata, própria de quem sonha mais alto. Fez parte de inúmeros espectáculos de dança, teatro e recitais de Música Antiga em território nacional e estrangeiro. É através de um dos instrumentos mais mágicos e injustamente esquecidos que tem vindo a consolidar a sua obra. É o cravo o centro das suas apresentações, de onde se destaca a interpretação do repertório de Carlos Paredes como nunca o ouvira-mos antes.
Escutá-la é uma doce ruptura com o expectável em 2021; vê-la, neste contexto, significa estar a assistir a um pedaço de história, agora, tornada viva e com novas formas de se sentir. NA

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