Tradicional e transgressor, o trabalho do duo feminino catalão tem sido uma afirmação maior na produção europeia. Helena Ros e Marta Torrell são as duas artistas que tratam amiúde a tradição oral, levando-a às possibilidades estéticas da música contemporânea. A premissa parece familiar, replicada aqui e ali, com maior ou menor mestria, mas nas Tarta Relena existe um interesse profundo no acto de explorar o desconhecido e o intemporal. Uma busca que não recorre a fórmulas ou tendências estéticas, senão a ir mais fundo, camada a camada, até ao centro da terra. Ora Pro Nubis foi o disco que imaculou este antigo mundo novo, projectando-as para um público mais global. Com ele vieram as inúmeras apresentações ao vivo onde se incluem passagens pelos festivais Mutek, Eurosonic ou Primavera Sound, apenas para nomear alguns.
A cartografia mediterrânica das Tarta Relena faz-se de uma constante e cuidada etnografia sonora em que os pedais de efeitos, sintetizadores e DAWs conferem um espectro sónico latente e pontual. O espaço e o silêncio são elementos fulcrais a esta magia; é deles que se intensifica a polifonia das vozes, ora suspensas e feéricas, ora mais primais e selváticas. Evocam a essência de Medulla de Bjork e parecem partilhar da inovação dos ucranianos DakhaBrakha. Na verdade, o ângulo de expressividade surpreende pela sua consistência. Mesmo quando a electrónica espreita, tal não arromba a fragilidade ou ofusca a força de onde tudo nasce. Um equilíbrio que se revela matriz no modo como elevam esta música simultaneamente sacra e urbana, ao nível de uma autêntica experiência.
Já este ano surgiu Pack Pro Nubis, duplo álbum que reúne algumas das gravações anteriores e a que se junta de uma mão cheia de remisturas (abrindo outras dimensões e revelações). De resto, a oportunidade de as ver cá é um elogio à irreverência e um convite a um ritual indescritível. NA