Após um primeiro álbum gravado no sótão da SMUP intitulado de forma bem sucinta de ‘The Attic’, numa formação que continha Marco Franco atrás da bateria, Rodrigo Amado e Gonçalo Almeida dão uma espécie de continuidade a esse trabalho assumindo The Attic enquanto banda-entidade com a acoplagem de Onno Govaert para o lugar de Franco. ‘Summer Bummer’, gravado no festival com esse mesmo nome – bem directos na abordagem ao título novamente, será o próximo álbum gravado enquanto Summer Bummer? – é resultado desta triangulação fértil de ideias e saber, com edição na sempre atenta e cada vez mais imponente NoBusiness. Mais um álbum grande por parte de três músicos com um ano de 2019 de franca e positiva actividade.
Ao longo de três longos temas, esbatem conotações mais estáticas sobre composição e tempo real e improvisação num todo de coerência e fervor que alinha neste registo clássico de saxofone tenor, contrabaixo e bateria passagens mais contemplativas e momentos tempestuosos numa gradação interna que não cede a crescendos óbvios nem momentos cortantes a martelo. As notas langorosas muito azuis de Amado no início de ‘Walking Metamorphosis’ em enredo com pontuações de bateria e texturas de cordas a bater num delírio de grupo de blow outs e extâse colectvo. Jazz que reconhece o poder de fogo do rock sem tentar qualquer tipo de fusão. Tudo com tempo. Gestão primorosa de acontecimentos. É assim todo o álbum com capa linda do saudoso Manuel Amado – pai de Rodrigo.
A dar arranque a um 2020 de expectativas, este concerto de The Attic serve quase como consagração de um 2019 que viu novamente Amado ser ampla e justamente elogiado por todo o lado – com disco lindo em duo com Chris Corsano ou inúmeros concertos de memória -, Almeida com óptimos álbuns de The Selva ou Cement Shoes e Govaert a assumir cada vez um lugar de destaque na viva cena holandesa, através dos Cactus Trucks ou do octeto de Kaja Draksler. Belo prenúncio.BS