Com tanta música jovial e gira, sensata e limpa, não sentem a falta de algo vital? Algo que não se reduza à nostalgia por velhas bandas sonoras e música foleira? Algo que não se confunda com as canções de Anatomia de Grey (é verdade, ao que chegámos). Pois bem, há uma banda assim. E não, não são os Velvet Undergound ou os Bad Brains. É uma banda com pouco anos de vida, de gente jovem, como devem ser todos os que se entregam ao sacrifício que o rock exige.Chamam-se The Men e dividem-se em quatro partes: Mark Perro (voz, guitarra), Nick Chiericozzi (voz, guitarra), Chris Hansell (baixo) e Rich Samis (bateria). Vêm de Brooklyn e não têm a bênção a David Byrne. São contemporâneos das bandas como os Gang Gang Dance, mas inscrevem-se numa linhagem completamente distinta. São, para irmos directos ao assunto, uma banda no sentido mais nobre do termo. Quatro gajos a fazer música. Artesãos.
E nem por sombras isso os torna redundantes ou enciclopédicos, como já alguém escreveu. Ouçam o álbum de estreia, “Leave Home”. É obra de quem crava o seu próprio tempo e espaço, reconhecendo nesse gesto uma sintonia com um passado. Que passado? A história do punk (de todo o punk), do noise-rock, do metal, do indie-rock (antes dos maneirismos). Só assim é possível abrir /recordar a um género cada vez mais “histórico” todo um conjunto de possibilidades, de pontos de fuga que permanecem por explorar: a tensão alucinada dos Spacemen 3, a deriva dolorosa dos The Saints, o ritmo marcial dos The Screamers e dos Suicide, a loucura do Butthole Surfers ou dos Jesus Lizard. Como advinham a resposta que os The Men provocam é sempre visceral, violenta. Nos seus concertos ou se dá tudo ou não se dá nada. Não há outra opção. Esta banda é um portal para centenas de vozes, riffs, melodias e acordes que, ressuscitados, é impossível silenciar. JM
