The Sea and Cake ostenta genes criativos, intrépidas composições, meticulosamente trabalhadas por suaves transições, fluidez que não figura na impunidade brutal das suas origens: Chicago. O quarteto regenera-se como um conjunto de artesãos que se complementam, no mesmo tempo, no mesmo ritmo, em máquinas díspares. Entrelaçam fibras que espontaneamente resultam em lugares de prosperidade melódica, voluptuosas sinfonias amenas, arejadas, adquirindo texturas sonoras ímpares. Depois da edição de Runner (Thrill Jockey Records, 2012), a banda reduz-se a três elementos – Sam Prekop, Archer Prewitt e John McEntire – e Any Day (Thrill Jockey Records, 2018) convida-nos a entrar numa recatada zona de conforto, aqui Sam Prekop emprega cómodas vocalizações estendidas sobre instrumentais atópicos, contudo, de invulgares expedições sónicas. Na extensa discografia dos Sea and Cake existem divagações por diversas camadas orquestrais, Any Day, por sua vez, incorpora ambientes orgânicos, guitarras acumuladas, teclas sublimes e ainda a feliz adição da flauta (no tema homónimo) e clarinete, através de Paul Von Martens (colaborador de Brian Wilson).
Nas nossas memórias permanecem outras dezenas de edições, entre elas, a canção de 1994, “The Fontana” incluída numa compilação promovida pela organização Red Hot. Em actividade paralela a outros projectos, como os Tortoise, – caso do baterista John McEntire – The Sea and Cake atinge um percurso com duas décadas e meia, com Any Day chega a paisagens nostálgicas, porém, sem se desfazer da natural excitação movida por uma enigmática esperança. Apesar de detalhadamente pensado, o cancioneiro do trio (que cresce para quarteto ao vivo, com Douglas McCombs, dos Tortoise, no baixo) avoluma-se em palco. Naquela que será, imperdoavelmente, uma noite de regozijo harmonioso na ZDB. JH