Apresentação de The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy.
Há uma energia fulgurante na música Sunflowers. É a do rock (ou do punk), com aquela voracidade que parece eterna, insaciável. Que alegra os corpos e o espírito. Afinal, mais do que mudar o mundo ou chocar a tradição, esta foi sempre a sua grande promessa: trazer uma alegria indescritível e contagiosa a todos os que o encontram. Ora eis o que Carol Brandão e Carlos de Jesus fazem desde 2013, celebrando a beleza da guitarra e da bateria quando apaixonadas.
Os Sunflowers são um duo e, como todos os duos do género musical mencionado, sabem fazer crescer o som com economia. Paradoxo? Pelo contrário, nesse exercício de síntese, cada canção explode num fragor de melodias e ritmos, de tal forma que só nos resta correr atrás delas. É o que acontece em The Intergalactic Guide to Find the Red Cowboy, o novo disco que os Sunflowers interpretarão neste concerto, comunicando-o ao mundo.
E que disco. Nele resplandece toda uma narrativa do rock: aquela revolvida pelos The Sonics, pelos The Cramps, pelos The Gun Club, pelos U-men, pelos White Stripes e tantos outros. Em que a fúria do punk electrizou (ainda mais) o blues, o rock & roll, a surf-music, a country, orockabilly. É dela que vêm osSunflowers. Lembrem-se quando os acolherem neste palco.
Mas desenganem-se os sisudos. Carol e Carlos fazem mais do que rever, deslumbrados, a história. Entre os dois, há uma relação que equilibra o seu (punk) rock, tanto quanto o move ou o faz dançar. Ouvem-se um ao outro, sem centelha de egoísmo. São um casal em relação, como se constata em The Witch: os riffs a pularem ao lado da bateria e as vozes a correrem juntas, em coro, a caminho de uma clareira. Não que num momento ou noutro, a guitarra não se destaque da bateria, e vice-versa (como acontece amiúde), mas é o prazer da interacção, a troca de olhares, a construção de uma certa intimidade (tornada pública em nome do artificio musical) que os conduz. Ponham os ouvidos no duplo contentamento que alimenta e acelera “Mountain” ou “Hasta la Pizza Rest in Pepperoni”.
É em “Post Breakup Stoner” e no tema que dá o título ao novo álbum que os Sunflowers melhor sublimam este “método”. Na primeira, uma notável balada pop, quando a voz de Carlos parece soberana, a de Carol irrompe num lamento que oferece à canção uma inesperada pungência. O rock também sabe comover e consolar? Sim, sabe. The Intergalactic Guide to Find the Red Cowboy ilustra a capacidade de reinvenção do duo, num desfile de máscaras sonoras que o consagra como compositor de grandes canções. É o tema que encerra o disco, revelando uma banda que, sem poupar a energia, sabe transcender, com inteligência e panache, fronteiras estéticas. Dançar com os ouvidos sensíveis, tal é o repto que os Sunflowers nos deixam neste disco e neste concerto.
A abrir a apresentação de The Intergalactic Guide to Find the Red, estarão o garage-rock desinibido dos 800 Gondomar e o punk oleado dos Moon Preachers. Uns de Rio Tinto, os outros de Lisboa, atestam a saúde do rock feito em Portugal e espelham a mesma energia que ilumina os Sunflowers. JM