A missão é escrever acerca de Thurston Moore, mas sobre qual deles exactamente? O tipo que ambicionava ser escritor, quando se mudou para Nova Iorque, em 1977, e que acabou por sê-lo nos temas mais “falados” de Sonic Youth? O patrão da Ecstatic Peace e de todas as bandas que revelou? O fenómeno que volta sempre a ter 27 anos, quando anuncia “White Kross”, no microfone, ou até mesmo 23, enquanto ergue a guitarra, durante o pico ruidoso de “Confusion is next”? O conselheiro instigador de David Geffen? O conhecedor que arrastou consigo uma lista de artistas plásticos demasiado longa para ser aqui descrita? O músico incansável que, em paralelo ao seu percurso de canções, arranjou tempo para as mais diversas colaborações na música experimental norte-americana? Ou o entusiasta que, a cada vez que fala dos Suicide, provoca uma vontade enorme de entregar os ouvidos ao terror da dupla formada por Alan Vega e Martin Rev? A mais simples forma de resolver todas estas questões passaria inevitavelmente por corresponder a primeira delas ao seu destinatário mais óbvio: o Thurston Moore, que canta e toca guitarra nos Sonic Youth, com tudo o que isso tem de heróico, mítico e significante na música dos últimos 30 anos. Mas reduzir a dimensão de Moore ao papel que teve na longevidade gloriosa dos Sonic Youth representaria alguma injustiça para com as suas restantes facetas. Além disso, um passeio pelas inúmeras vidas de Thurston Moore estaria incompleto se excluísse todas aquelas que foi revelando nos discos: fosse enquanto parte de um colectivo tantas vezes obcecado por Nova Iorque (os Sonic Youth documentaram a efervescência artística, a insanidade e a nostalgia da cidade), ou, noutras situações, desviando o seu discurso para uma rota em nome próprio. Importa por agora incidir sobretudo no segundo trajecto, porque é nessa condição que Thurston Moore se apresentará à estreia, em Portugal, quando tocar no Teatro da Trindade acompanhado por Samara Lubelski (Tower Recordings, MV & EE), John Moloney (Sunburned Hand of the Man) e Keith Wood (Hush Arbors). O acontecimento é especial e não se fica pela primeira noite: um dia depois, na intimidade do Aquário da ZDB, com entrada exclusiva para os seus sócios, Thurston Moore tem carta branca para o que entender. Eis-nos portanto perante a passagem de um ilustre senhor de cinquenta e poucos anos, que, mesmo sem ter muito a provar, preserva a necessidade de progredir em cada novo disco. Veja-se, por exemplo, como Psychic Hearts, em 1995, expunha as investidas mais irrequietas de Thurston Moore, como uma parte ainda assim indissociável dos Sonic Youth, enquanto os mais recentes Trees Outside the Academy e Demolished Thoughts dão voz a um escritor de canções por direito próprio e com méritos bem distintos. Na verdade, tanto Trees Outside the Academy, como Demolished Thoughts, recorrem a uma palete de instrumentos mais “clássicos” (violino em ambos, harpa no último) que dificilmente teriam lugar na orgânica urbana dos Sonic Youth. O Thurston Moore, que sempre deu sinais do fetiche pelos arranjos mais pomposos da década de 70 (o homem adora os Carpenters), é o mesmo que agora os emprega nos seus discos. Voltamos então à primeira casa: o Thurston Moore que nos visita é aquele que jura um amor gigante no desarranjo infinito das guitarras de “Diamond Sea” (monumento mais que belo dos Sonic Youth), ou o escritor de canções amadurecido que não recusa uns quantos arranjos de cordas à imagem do melhor Marc Bolan? Provavelmente uma soma de ambos e nenhum deles em particular. As restantes respostas seguem dentro de momentos. MA
Thurston Moore
— No Teatro da Trindade
Entrada
20€ 2ª Balcão