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Música
Concertos

Thurston Moore c/ Gabriel Ferrandini & Pedro Sousa ⟡ Sunflare

qui04.10.1222:00
Galeria Zé dos Bois


Thurston Moore
Gabriel Ferrandini & Pedro Sousa ©Nuno Martins
Sunflare ©olhos(«Ä»)zumbir

Nas últimas décadas, e à medida que o rock envelheceu, fomos assistindo a uma progressiva desvalorização dos ‘grupos’. Mesmo quando persistem sob forma de trios ou quartetos, os seus membros rapidamente inventam projectos laterais ou se envolvem em colaborações, diálogos, conversas. Ou, pura e simplesmente suspendem ‘a banda’ e dão largas à sociabilidade musical. Por um lado, há a sensação de que a música popular sofreu uma tal atomização, que não vale a pena teimar em formatos ‘clássicos’. Por outro, vivem-se os efeitos da globalização, isto é: em cada porto há um músico com que se combina uma jam, com que se partilha um palco, com que se grava um disco. É tudo uma questão de descobrir afectos e afinidades comuns que, no fim, podem até resultar em relações duradoras. Tomemos como exemplos os concertos desta noite. O primeiro reúne o enorme Thurston Moore (guitarra), Gabriel Ferrandini (bateria) e Pedro Sousa (saxofone tenor) e acrescenta mais um capítulo à aventura individual e estética do fundador dos Sonic Youth. Não será um encontro como o que deu origem aos Diskaholics Anonymous ou a discos como ‘Shamballa’. Mas promete ser uma coisa fluida, sem deixar de ser intensa. Imaginem a versatilidade elegante de Gabriel Ferrandini ou a fúria poética Pedro Sousa a responder à ferocidade alimentada por décadas de estrada de Moore. Free-jazz punk. Os instrumentos em slam-dance. Também absolutamente irrepetível vai ser o concerto dos Sunflare, o magnífico power-trio que um dia nasceu do encontro entre Guilherme Canhão (na guitarra), Rui Nogueiro (no baixo) e Raphael Soares (na bateria). Logo no primeiro ano, ameaçaram entrar em combustão, tal era o frémito que encharcava as guitarras e bateria. Mas resistiram à precariedade que caracteriza muitos projectos contemporâneos e, com o (des)respeito que é devido à história e tradições do rock, afirmaram-se enquanto grande banda do género. O novo disco, ‘Ghetto Blast’ (com edição da americana Batshit Records), é uma maravilha e merece todos os elogios que chegam de bloggers, críticos e músicos internacionais. Os apressados não hesitarão em citar sombras (High Rise, Hawkwind, Comets on Fire) e pouco mais conseguirão acrescentar. Ora, os Sunflare estão para lá de um elenco de influências. Atingiram um estado, uma forma que é só a deles. Pelo modo como transformam a distorção em textura, pela música que fazem que é, de uma só vez, visceral e contemplativa. O disco é grande. O concerto vai ser maior. JM

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