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TONE ⟡ nëss

qua09.11.2222:00
Galeria Zé dos Bois


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TONE

TONE

A palavra que mais vezes surge ao ouvir “So I Can See You”, primeiro álbum de TONE, nome artístico de Basil Anthony Harewood, editado neste ano pela Rhythm Section International, é transformativo. Ligado ao colectivo CURL onde militam Mica Levi e Coby Sey (ambos colaboram directa ou indirectamente no álbum), Harewood constrói uma série de sons familiares com uma voz própria. O transformativo vem com a ideia de limbo que deixa a navegar em cada riff de guitarra, a cada beat descontraído ou no meloso cadente da sua voz, em que as coisas soam a qualquer outro lugar e, em simultâneo, parecem existir num corpo informal, sujeito a adaptar isto a algo novo. Música que vive no momento, que tanto dá memórias de reggae, R&B, soul, calypso, como de dubstep e, inesperadamente, shoegaze.

A soma destas partes todas dão um som singular a TONE e às suas canções formatadas para singles, num álbum onde tudo é orelhudo e que cresce para lá das primeiras impressões. O tema título, por exemplo, com colaboração de Coby Sey parece ska adequado a banda-sonora de filme indie, com um trabalho magnético nas vozes, num ping pong sobreposto entre Harewood e Sey. A forma como “So I Can See You”, a canção, se apresenta respira o que de melhor existe na música de Tone, uma habilidade singular de canalizar melodias familiares para algo novo, que informa das origens afro-caribenhas e britânicas. Pela névoa, ou nostalgia, constante dos seus temas, é fácil de pensar nas canções de Tone como um novo estágio do circuito hauntology britânico, concentrado noutro tipo de espetros e de explorações sonoras: em alguns dos seus temas é possível descortinar a descoberta de uma fórmula para tornar as ideias por detrás da hauntology em canções. Por isso, volta-se ao transformativo, a música que TONE cria ressoa a um sítio familiar mas não parece pertencer a um sítio fixo. Permanece por desfrutar, descobrir. AS

nëss

Orgulhosamente oriunde das Mercês na linha de Sintra, nëss singer-songwriter autodidata, performer, escancara sem medos todas as fragilidades, medos, anseios da sua identidade não-binária, queer e negra em canções carregadas de gente e vida. Reflexo bem pessoal das suas vivências, que das angústias da depressão e da dúvida procuram vislumbrar a esperança, os limites do perdão, arrepiar caminho.

É indie nascido por entre o betão dos bairros periféricos e dos skate parks, dos smartphones a bombar kizomba e trap, dos regressos sonâmbulos a casa de comboio, das famílias que não escolhemos e daquelas que nos acolhem, da honestidade.

nëss apresentará um projecto mais maduro com sonoridades de punk e folk alternativo onde vomita desabafos e grita por um novo amanhecer, agarrando nos impasses que criou e que a vida fez assim os existir, desconstruindo-os até a raíz, chegar à semente e renascer novamente.

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