É sempre gratificante acompanhar o percurso de alguém cuja obra possa ser tão poderosa e mutável. Quando em 2008 surgiram ‘Introducing…’ e ‘Gravel Days’, a suspeita da presença de uma grande força criativa manifestou-se no imediato. Pela crueza e pela vivacidade da sua expressão, mas também pela voz desconcertante que ecoava no cenário pós-industrial que aludia. Uma atmosfera rarefeita que pairava sobre um viveiro lo-fi, resultante do rasto de caos deixado por contemporâneos como Magik Markers, Mouthus ou The Dead C. Num ano marcado pelo aparecimento de outras exploradoras sonoras de semelhante estirpe como Zola Jesus ou Circuit Des Yeux, Meghan Remy (nome real por detrás de U.S. Girls) terá sido a que melhor soube desenvolver a sua linguagem e gerir o seu caminho até aos dias de hoje. Mantendo uma aura de mistério e sensualidade, tem igualmente descortinado novos caminhos em direcção ao universo da canção – quer através de versões de gente tão díspar como Brock Robinson ou Aaliyah, como por inspirados originais – ‘Island Song’ ou ‘If These Walls Could Talk’ (cujo vídeo foi gravado no espaço da ZDB). Mais directas e polidas, estas canções acabam por relevar pormenores e explorar melodias que até então se desconheciam.
O novíssimo ‘Gem’ (Fat Cat) traz mais veludo à roupagem que tem adornado a música de U.S. Girls. Um constante puzzle de possibilidades e de paisagens que estará no centro desta digressão que passa por Lisboa. Mas as novidades não se esgotam por aqui; consigo traz uma banda, que a acompanhará ao vivo, , e Slim Twig enquanto produtor de estúdio e companheiro de palco. Uma apresentação inédita que revela uma faceta essencialmente mais orgânica e musculada, bem diferente das passagens anteriores por cá. Quanto a Twig, trata-se de um ilustre desconhecido para muitos. Conta, no entanto, com vários lançamentos em seu nome e colaborações com Owen Pallett, Dirty Beaches e Ela Orleans. É ainda o responsável pela editora Calico Corp, que reúne trabalhos Sic Alps ou Eric Copeland no seu historial. NA