Em Under the stars, é associada a expectativa de maravilhoso à mais crua objectividade. As estrelas aparecem aqui como que clichés da evocação da metafísica. Ao surgirem na sua estilização gráfica, e ao serem imagens que se transformam em coisas, estas estrelas surgem ameaçadoramente cortantes, contundentes. Uma estrela cadente é, de facto, um meteorito. E, se tiver a forma gráfica de uma estrela verá, certamente, substancialmente aumentado o seu potencial bélico. A canção do vídeo Under the stars, aparece como banda sonora da exposição que se multiplica em: telas onde, nos lugares onde as estrelas se espetam como punhais, estas dão origem ao nascimento de outras realidades; desenhos que exploram as sua virtualidades conceptivas da própria ideia de desenho, encarando a expectativa de criatividade nas artes plásticas como um readymade a explorar, objectos onde representações de rostos são espetadas por varinhas mágicas que se limitam a expressar violentamente a sua materialidade.
E a canção Under the stars, na forma despudoradamente ternurenta como refere as estrelas, mais do que associar a arte ao belo, associa-a ao lindo, numa excessiva familiaridade que torna impossível qualquer pretensão de metafísica. Under the stars I found a star that asked me where to go – de facto já não nos podemos orientar pelas estrelas se nem elas sabem onde estão – Under the stars I found a star lost in space. Mais do que as estrelas de Under the stars, nesta exposição é explorada a condição de quem, como nós, está por baixo delas. Num universo onde as imagens se coisificam, onde a metafísica se nega a si própria ao ser táctil, material, o que poderia ser uma atitude fortemente deceptiva explora sobretudo o encanto dessa condição. E nada melhor do que celebrar o fim da metafísica com uma canção. Na abstracção da melodia pode não haver coisa mais metafísica que o fim da metafísica.
– António Olaio
Under the Stars
— de António Olaio
António Olaio
António Olaio, nasceu em 1963, em Sá da Bandeira, Angola e vive em Coimbra. Licenciado em Artes Plásticas/Pintura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, em 1987. É professor no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, tendo apresentado, em 2000, dissertação de doutoramento, construída a partir da obra de Marcel Duchamp. Director do Colégio das Artes da UC. Investigador do Centro de Estudos Sociais.